#73 glifo por glifo: processo criativo
pré-venda aberta + mais sobre o projeto gráfico do workbook ;)
hello, stranger! eu sou hele carmona; sou jornalista e em dezembro me formo em Design na Esdi/Uerj. como trabalho final, estou elaborando um workbook de escrita, desenvolvido com foco em designers e outros profissionais criativos. nessa edição vou contar detalhes sobre a elaboração do projeto gráfico :)
confira outras publicações sobre meu tcc: na edição #71 falei sobre a base teórica do trabalho e na edição #72 contei das entrevistas com usuários e elaboração do conteúdo.
🏺💧 forma & conteúdo
A relação entre forma e conteúdo é um assunto inesgotável para designers. Aqui na makers mesmo eu já publiquei dois ensaios sobre isso: #37 a taça de cristal e #63 palavra vs. tipografia. Nessa última eu escrevi o seguinte:
A formação clássica em design gráfico nos ensina que a aparência de uma palavra tem tanto ou mais força quanto o seu significado. Um argumento comum para engrandecer os feitos tipográficos é que a tipografia não é só importante, mas necessária para suprir uma espécie de deficiência da palavra impressa (ou, hoje, a palavra digitada). Como escreve Richard Hollis em Design Gráfico: Uma história concisa:
“A palavra, quando impressa, na forma de registro da fala, perde uma extensa variedade de expressões e inflexões. Os designers gráficos contemporâneos (especialmente seus precursores, os futuristas) têm tentado romper essa limitação. Ampliando ou reduzindo os tamanhos, os pesos e a posição das letras, seu tipografismo consegue dar voz ao texto. Instintivamente, existe um anseio não só de transmitir a mensagem, mas também de dar a ela uma expressão única.”
Como uma designer que escreve, eu frequentemente penso na forma das palavras que escolho. É comum que eu já escreva pensando em como as frases vão estar posicionadas, em qual tipo de papel serão impressas, quais cores e técnicas de impressão vou usar. Mas sempre me lembro de uma anedota que um professor me contou em um curso de escrita criativa:
A extinta editora Cosac Naify, conhecida por seus projetos gráficos caprichados, trabalhou em uma edição do livro A Paixão, de Almeida Faria. O livro é narrado em três partes, manhã, tarde e noite, que foram impressas em papéis de cores diferentes: cinza suave e quente para a manhã, branco para a tarde e um cinza mais profundo para a noite. Diz o boato que, ao ver o livro pronto, o autor teria questionado:
“E todo o trabalho que eu tive para clarear as palavras da manhã e escurecer as palavras da noite?”
omg, a pré-venda de Glifo por glifo já começou! O livro conta com 32 páginas que unem teoria e 9 exercícios práticos que convidam designers e criativos a explorar a escrita livre e autoral :) O workbook será impresso em risografia, depois montado e costurado por mim.
A pré-venda está rolando no Catarse e os exemplares físicos são limitadíssimos. Por lá você pode conferir mais informações, como opções para apoiar o projeto, valores e prazos de envio. Ah, e se contribuir financeiramente não estiver dentro das suas possibilidades, não deixe de compartilhar com outros designers & criativos!
A tipografia e os outros elementos de um projeto gráfico podem ser capazes de comunicar certos aspectos onde as palavras faltam — mas essa anedota sempre me lembra de que não podemos assumir que a comunicação verbal é inerentemente incompleta. Eu amo tipografia e design editorial justamente porque acho que as palavras importam, e assim merecem um trabalho de design que não as subestime.
De que forma eu poderia aproximar a aparência do workbook Glifo por glifo do seu propósito, sem subestimar a mensagem verbal?
🖨️ mídia escolhida
Desde 2022 desenvolvi diversos projetos pessoais em design gráfico e impressão, como zines, livretos e até um projeto editorial de livro completo. Para Glifo por glifo, me pareceu mais interessante trabalhar com alguma técnica de impressão com a qual ainda não havia trabalhado muito; o TCC não precisa ser um resumo dos conhecimentos adquiridos ao longo da graduação, mas pode ser parte do processo de aprendizado.
Eu nutro uma paixão por processos de impressão manuais. Pode parecer uma preferência anacrônica ou puramente estilística; mas há argumentos intelectuais em seu favor.
O Design enquanto disciplina frequentemente se apresenta como uma dicotomia entre o projetar e o fazer: o designer projeta, e as máquinas ou os trabalhadores não-intelectuais realizam. Essa separação me incomoda, não só pelo seu caráter elitista, mas também pela desvalorização do fazer manual.
Em A Lasting Impression: The Value of Connecting with Letterpress, David Meaney oferece um panorama sobre a contribuição dos processos manuais para o ofício do designer:
“Embora produzir o próprio trabalho manualmente possa ser mais demorado, permite ao designer criar uma conexão mais valiosa com o que está criando e desfrutar do processo. (...) Comparado ao ritmo acelerado do design digital, o trabalho de tipografia ‘lenta’ permite ao designer tomar decisões mais deliberadas.”
David fala especificamente da tipografia tradicional, mas essa não era uma opção tecnicamente viável pra mim. Então em outubro surgiu a oportunidade de participar da oficina “Cartazes tipográficos risográficos analógicos gigantes”, na Risotrip, ministrada por Daniel Bicho e Peu Lima. A proposta era montar uma matriz, feita a partir de técnicas analógicas como letraset, carimbos, caligrafia e recortes, e depois imprimir a peça em risografia.
🛠️ e se a gente parasse de baixar fontes e pintasse nossas próprias letras?
Durante a oficina, ao trabalhar com esses materiais e técnicas, me senti verdadeiramente conectada ao fazer do design do meu cartaz. Isso me inspirou a fazer o mesmo no projeto gráfico do workbook. Trabalhei com composições em letraset, carimbos, caligrafia e colagem, tudo manualmente; depois escaneei as peças e juntei a um layout diagramado de forma digital no Adobe Illustrator.
Além disso, convidei a talentosíssima Maria Mercante para ilustrar o livro. Ela já ilustrou um artigo que publiquei na Revista Recorte e já até me tatuou free hand. Confio demais nela, hehe. Isso é tudo que dá pra falar sobre o projeto gráfico por enquanto — mas até acho que foi bastante coisa, né?
como sempre, obrigada por ler até aqui. que oportunidade linda tem sido dedicar tantos meses a um projeto autoral, com a orientação do prof Wandyr Hagge, que tanto admiro, com a ajuda das minhas amigas e tanta gente massa que conheci esse ano. se você ficou interessado em adquirir um exemplar de Glifo por Glifo, você pode fazer isso agora mesmo na página de pré-venda. e se você conhece alguém que pode curtir esse texto, que tal compartilhar essa edição? :)
adorei acompanhar essa partezinha do processo! adoraria ver mais