makers reporta: o que rolou de mais interessante no Figma Shipped América Latina
o lançamento do primeiro escritório do Figma no Brasil trouxe uma mudança clara no discurso sobre IA e reforçou a importância da comunidade criativa | tempo de leitura: 7 minutos
oie, seja bem vinde a mais uma edição da makers! eu sou hele carmona, designer, artista multimídia e jornalista. na intenção de gastar meu diploma de jornalismo (hehe), estou inaugurando uma nova seção aqui na makers, a makers reporta. esse vai ser um espaço pra comentar sobre eventos de design e criatividade relevantes pra nossa comunidade. eu já tinha feito algo parecido na última feira delícia, quando entrevistei vários dos criadores que estavam por lá. mas voltando: no início do mês rolou o Figma Shipped em São Paulo, e queria compartilhar o que vi e ouvi de mais interessante por lá. vamos?
Promessas sobre IA mais realistas

Em 2023, enquanto escrevia meu TCC em Design, eu mapeei o discurso de algumas empresas de software sobre a implementação de ferramentas de Inteligência Artificial generativa — incluindo o Figma. Na época, o discurso comum era o seguinte: IA pode criar possibilidades infinitas; vale tudo pra otimizar o workflow. A palavra “revolução” aparecia o tempo todo, e incorporação de IAg não parecia opcional, mas sim um futuro inexorável.
Partindo desse recorte, o posicionamento do Figma hoje me parece muito mais equilibrado (e realista) do que em 2023. No último Config, a conferência anual que apresenta as atualizações mais importantes para os usuários, foram anunciados quatro novos produtos: Figma Make, Figma Sites, Figma Buzz e Figma Draw. Conforme o VP Noah Levin os (re)apresentou no Figma Shipped, percebi uma coisa: eles não vão todos na mesma direção. O Figma Make é uma ferramenta para prototipação baseada em IA, mas o Figma Draw… é uma ferramenta de desenhos vetoriais. E ao falar dela, Noah foi direto: com a transformação dos softwares a partir de recursos de automação, os produtos criados vão ser cada vez mais semelhantes, tanto em aparência quanto em capacidade… é a arte e o “toque humano” que vai diferenciar as produções.
Mais tarde, na sessão de perguntas fechada com a imprensa, perguntei diretamente a Noah Levin o que mudou de 2023 pra cá e que fez a IA passar de protagonista absoluta para uma coadjuvante, uma auxiliar: foi o mercado, a resposta dos usuários? Ele respondeu que sim, foram os usuários. Usuários que estão menos impressionados e que esperam uma abordagem realista em relação a IA e suas capacidades. Ninguém mais acredita que é só apertar uns botões e uma IAg vai fazer todo o trabalho. Ela pode ser mais útil adiantando a responsividade de layouts para diferentes tamanhos de tela ou transformando um quadro do FigJam em uma apresentação (simples) de slides. Mas, por enquanto, nada de megalomania. Aliás, um colega da imprensa perguntou pra Noah sobre a promessa da Meta de automatizar 100% com IA suas ferramentas de publicidade, incluindo o design, copy e segmentação dos anúncios — e ele riu.
Ninguém espera que empresas de tecnologia se abstenham da corrida tecnológica gerada por tantas ferramentas de IA; mas conforme a opinião dos usuários se transforma e nem todo designer ou criativo está disposto a incorporar tais ferramentas no próprio trabalho, essas empresas precisam ao menos mantê-las opcionais. Parece que o Figma entendeu isso mais rápido do que… bom, certas empresas.
“Mesmo que a execução — o meio — fique mais rápido, não quer dizer que não importa. Não é porque podemos criar rápido que devemos criar rápido. Isso só ficou mais possível.”
Rafael Frota, na sua cobertura do Shipped Figma pro
Em outro aceno — mais sútil — à valorização do componente humano, a artista Camila Gondo esteve presente no evento com um mural colaborativo. Eu pintei um pedacinho, o suficiente pra entortar as linhas perfeitas da Camila, hahah.
Palavras importam
No painel “Como construir marcas que escalam”, Ellen Kiss (Nubank), Fabricio Dore Magalhaes (Itaú) e Aixa Aztarbe (Mercado Livre) responderam perguntas da plateia. Uma delas me chamou mais atenção: “Como manter a consistência e uma boa comunicação com o cliente em todas as interfaces, com tantos desdobramentos?”; Ellen Kiss respondeu: “Prestando atenção ao contexto e incorporando a linguagem local. Hoje o Nubank está em três países: Brasil, México e Colômbia. E em todos eles nos preocupamos em nos comunicar como eles se comunicam, incorporando inclusive gírias e dialetos locais”. Seus colegas de painel reforçaram: content design é cada vez mais importante dentro de grandes sistemas. Isso me lembrou algo que eu sempre defendi, embora em menor escala: as palavras importam. O que está sendo dito (e percebido) é tão importante quanto a forma e o design — na verdade, as palavras certas vão elevar o design (pelo qual prezamos tanto)... e as palavras erradas podem torná-lo inútil ;)
Comunidade no centro
“Nothing great is made alone” já é a frase do Figma há um tempo, e vale pra várias frentes: desde a possibilidade de colaboração entre usuários num mesmo projeto até as decisões internas, como quais atualizações e produtos priorizar. Mas pra além dos produtos, é legal ver que há uma comunidade de criativos se formando.
Já falei sobre a solidão dos profissionais criativos em outra edição da makers; acho que o caso se agrava quando somos profissionais freelancers ou mesmo contratados por empresas, mas da própria casa. Eu trabalho em home office há 4 anos e sinto falta de trocar ideia com pessoas da área presencialmente. A própria makers é um espaço que me permite conhecer muitas pessoas, mas a maioria das interações é online e não é a mesma coisa. Então eu achei muito legal quando descobri que usuários do Figma se reúnem em grupos por cidade, chamados Friends of Figma. Inclusive, a Marianna Piacesi (líder do FoF São Paulo) foi a host do painel “Como construir marcas que escalam”, que recebeu líderes de design do Nubank, Mercado Livre e Itaú e abriu o Figma Shipped. Fui procurar saber mais e já estou me programando pra colar no próximo evento presencial no Rio de Janeiro.
O próprio Shipped Figma foi uma oportunidade incrível de networking. O evento foi gratuito, assim como a maioria dos eventos promovidos por eles, e tinha muita gente maneira! Consegui conhecer e papear com a
da Bits to Brands e o do UX Colletive Br. Pra participar dos próximos eventos, é só ficar ligado no FoF da sua cidade ou no site do Figma.🎁 Listinha de presentes pra designers
O famoso site do careca está com descontos altos hoje e amanhã (15 e 16 de julho) e essa é uma ótima oportunidade pra você adquirir alguns livros que já foram recomendados aqui na makers! Ao comprar com o meu link de associado, você ajuda a financiar e viabilizar a newsletter :)
Meu livro preferido sobre mulheres na tipografia: Inimigas Naturais dos Livros, do Clube do Livro do Design, de graça (!!!) no kindle unlimited. Falei dele na edição 83: 𝓂𝓊𝓁𝒽𝑒𝓇, não: mulher.
Recomendações da edição 74: Guia de como aumentar seu repertório em Design:
Uma introdução à história do design (Rafael Cardoso, 2008);
Inteligência visual (Amy E. Herman, 2016);
Design do Século XX (Charlotte e Peter Fiell, 2005);
Design gráfico: Uma história concisa (Richard Hollis, 2010);
Elementos do estilo tipográfico (Robert Bringhurst, 2022)
O design do dia a dia (Don Norman, 2006) ou a versão revisada e ampliada (2024)
Não me Faça Pensar: Atualizado (Steve Krug, 2014),
O Universo Paralelo dos Zines, de Márcio Sno. Bibliografia (brasileira) obrigatória pra quem se interessa por publicações independentes.
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Desde 2022 eu escrevo e publico ensaios sobre design, criatividade, cultura e trabalho. Criei a makers porque ela é a newsletter que eu gostaria de ler: uma publicação que fala sobre design de forma descomplicada, mas não simplista. Prezo muito pela confiabilidade das informações que publico e sou eu quem pesquisa, escreve e edita cada texto. Já são mais de 80 edições gratuitas enviadas para +3 mil pessoas, além de zines e impressos autorais.
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obrigada por ler até aqui! me conta o que achou da nova editoria, makers reporta? adorei participar do Shipped Figma como jornalista e já tenho outros eventos em mente.. mas também aceito sugestões hehe. como sempre, fique a vontade pra deixar um comentário ou responder esse e-mail pra trocar ideia. e se você conhece alguém que pode curtir esse texto, compartilhe :)
A cobertura que a gente queria <3