#6 um emoji vale mais que mil palavras
Tempo de leitura: 5 minutos | ok, talvez 'mil' seja exagero, mas a real é que chegamos num ponto em que só palavras não bastam.
quando o assunto é emoji, eu sou suspeita pra falar 😳… porque eu amo completar cada frase que começo com eles e provavelmente não sei mais me comunicar sem carinhas 🥵. mas eu ouso dizer que você também não sabe :P
aliás, :P é um emoticon, e não um emoji, mas a ideia é mais ou menos a mesma - vamos falar disso também. mas tá, eu sou zoomer1, eu uso emojis. e o que isso tem a ver com design? bom, você não acha que o uso de um ícone pra expressar uma emoção em meios predominantemente verbais de comunicação tem a ver com design?
❤️ para se inspirar
A história dos emojis: uma linha do tempo
A história da escrita (que, pelo amor de deus, eu não vou detalhar aqui) vai mais ou menos assim: as pessoas desenhavam coisas meio literais, tipo animais sendo abatidos, mas isso meio que dava muito trabalho e aí elas pensaram em alfabetos pra poder economizar tempo e espaço representando e registrando coisas. O resto é história: você está lendo isso, afinal. Mas eu acho muito interessante que os emojis são uma volta às origens: chegou um momento em que detalhar certas coisas por escrito foi ficando trabalhoso, e voltamos a recorrer à pequenos desenhos como forma de expressão (bônus: não precisamos fazer os desenhos, só escolher entre várias opções). Na seção de inspiração de hoje eu trouxe uma evolução visual e histórica dos emojis, em uma tradução livre do conteúdo da Emoji Timeline.
Era pré-emoji2
1982: Scott E. Fahlman, professor da Carnegie Mellon University, sugeriu o uso de “:-)” como uma forma de sinalizar piadas escritas no quadro de mensagens da universidade. Esse é um emoticon, assim como os posteriores :P, :), ;), >:-(, etc.
1986: Provavelmente o ano em que o primeiro kaomoji (em japonês, 顔文字. em português, rosto de letras) foi utilizado em um fórum online no Japão. Era o (^_^). Diferente dos emoticons, o kaomoji pode ser visto como uma extensão da cultura kawaii do Japão, e é fortemente influenciado por mangás e animes.
♥♡♥(ꈍᴗꈍ)ε`*)♥♡♥
Era pós-emoji
1995: Shigetaka Kurita, trabalhando na NTT Docomo, cria o primeiro emoji: um caractere de coração. A ideia foi implementada primeiro em um pager, e não em um celular - mas foi um sucesso.
1997: A Softbank (J-Phones, na época) lança o primeiro conjunto de emojis para celular, com 90 símbolos - inclusive o emoji de cocô sorrindo 💩.
1999: Kurita, o responsável pelo emoji de coração em 1995, cria um conjunto de 176 emojis para o lançamento de um celular da Docomo. Nessa época, havia um problema de compatibilidade: quem tinha telefone SoftBank e recebia emojis enviados de um Docomo não conseguia visualizar os símbolos e vice-versa.
2003: Os emojis já estavam alcançando países além do Japão, e o Msn meio que uniu emoticons e emojis. Havia um set de emojis disponibilizados que podiam ser escolhidos através de atalhos - que às vezes eram emoticons, como :), :D, :@ e etc. Eu amava (L).
2008: A Apple lança seus primeiros emojis, mas só no Japão. Eles foram desenvolvidos pra oferecer compatibilidade com os emojis da SoftBank para usuários de iPhone. O resto do mundo tinha que usar truques na configuração dos celulares pra usar também.
2010: Emojis são padronizados pelo Unicode na sua versão 6.0. Unicode3 é um padrão adotado mundialmente que possibilita com que todos os caracteres de todas as linguagens escritas utilizadas no planeta possam ser representados em computadores e “traduzidos” de um sistema operacional para o outro. Marcas como Google, Microsoft, Facebook e Twitter podiam então criar suas próprias versões de Emoji, e elas seriam exibidas corretamente em outros sistemas.
2011: Apple lança seus emojis mundialmente.
E desde então…
Muita coisa mudou, claro. Todos os diferentes sistemas de emoji continuaram evoluindo. Em 2012, a Apple adicionou emojis de casais LGBT, por exemplo 👭. Em 2015, o instagram baniu a hashtag do emoji de berinjela porque estava sendo usada para compartilhar… fotos íntimas masculinas. Enfim 🍆. E em 2016 um adolescente foi condenado nos EUA por ameaça - usando o emoji de arma. Inclusive, no lançamento do iOS 10, a Apple decidiu substituir o emoji de arma com uma pistola de água 🔫. Todos esses fatos estão documentados na Emoji Timeline, e mostram como os emojis e seu uso foram se transformando junto com a sociedade e a linguagem também. Existem diversos estudos sobre o impacto do uso de emojis na comunicação em diferentes países, línguas e culturas. E cada um deles mostra que esses símbolos tem um papel fundamental, preenchendo lacunas que as palavras não são capazes de preencher sozinhas.
💭 para refletir
Jejum de emojis
“Eu sou uma criança dos anos 80, então houve um tempo em que eu não tinha pequenos ícones para transmitir meu ponto de vista na comunicação escrita. As coisas eram “melhores” naquela época, quando todos tínhamos que gastar mais tempo pensando cuidadosamente sobre nossas palavras, em vez de escolher entre ícones?”
- Sara Garone
Esse é o questionamento que levou a escritora freelancer Sarah Garone a fazer um jejum de emojis por 3 semanas. Ela compartilhou a experiência em um artigo para a revista Greatist, que eu traduzi aqui, no medium da makers gonna make.
Esse artigo não é diretamente relacionado a design, mas acho que ele fala sobre comunicação visual. Designers participam nessa criação de ícones que molda a forma como nos comunicamos, e precisamos projetar considerando que pode ser que eles se tornem uma forma primária de comunicação. Fora do WhatsApp, dá pra pensar sobre como às vezes a iconografia sobrepõe a linguagem escrita, como em placas de sinalização, por exemplo. A diferença é que nesse contexto do artigo qualquer um pode incluir um desenhozinho nas mensagens que envia ou publica, sem precisar produzir ele. Se você quiser entender o impacto que isso tem na forma como você se comunica, você pode desativar o teclado de emojis nas suas configurações e repetir o desafio da Sarah - mas ainda vai continuar recebendo vários emojis, porque eles já se tornaram quase essenciais pra maioria das pessoas. Às vezes é muito mais complexo do que parece - e é sempre legal estar atento a esses assuntos cotidianos 😉
obrigada por chegar até aqui 😊 uma edição um pouco mais leve às vezes faz bem, né? principalmente depois das duas últimas edições, sobre inteligência artificial e política. enfim, eu adoraria um dia participar de alguma forma na criação de um emoji - imagina ser o cara que desenhou esse aqui? 🥺 hahah. eu acho interessantíssimo pensar nessas pequenas intervenções visuais que fazemos todos os dias quando nos comunicamos. fique a vontade para responder esse e-mail se quiser conversar, compartilhar algo ou até mesmo criticar algum ponto da newsletter. espero que esse possa sempre ser um espaço de troca.
até a próxima terça!
- hele
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👩🏻💻 curadoria e textos por hele carmona, jornalista & estudante de design
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zoomer é uma pessoa da geração z, ou seja, alguém que nasceu entre a segunda metade dos anos 1990 até o início do ano 2010. eu tenho 22 anos e até poucos meses atrás era viciada em tiktok. clássica zoomer, eu sei.
informações sobre a pré-história dos emojis foram traduzidas desse artigo aqui.
tirei essa definição desse blog, que inclusive explica muito bem como o unicode funciona.
Fiquei pensando sobre os emojis serem um retorno à uma comunicação pré-histórica, muito interessante isso. Você lembra de ter algum vídeo sobre o assunto? Queria enviar pros meus alunos.