#4 [especial] inteligência artificial e o impacto no design
Tempo de leitura: 8 minutos | uma edição um pouco mais longa, com links para explorar esse assunto que causa tanto encanto e incerteza ao mesmo tempo.
é oficial: eu não aguentei nem um mês de makers sem quebrar a estrutura inspirar/refletir. mas é por um bom motivo: a edição de hoje é sobre inteligência artificial, um assunto muito rodeado de boatos, especulações fantasiosas e até desinformação. é uma coisa tão nova e diferente que eu senti que não faria sentido soltar dois links e tentar contextualizá-los quando eu mesma ainda estou explorando as últimas notícias e os possíveis impactos nas profissões criativas. então hoje vamos ter apenas uma seção, cheia de links. vamos lá?
💡 para explorar
Um pequeno disclaimer para inaugurar a seção: como são muitos links, não consegui traduzir os conteúdos em inglês - mas acho que vale tentar ler com o google tradutor se for necessário. A ideia aqui é trazer e conectar alguns pontos que eu acho que merecem atenção - e clicar neles e explorar o assunto fica por sua conta :)
A inteligência artificial já está presente no dia a dia da maioria dos designers, até os mais iniciantes.
Porque a Adobe tem uma IA própria, o Adobe Sensei. Ele é a tecnologia responsável pelo preenchimento sensível a conteúdo - aquela ferramenta que a gente usa pra expandir fundos e apagar sujeirinhas das fotos; e também por todas as outras ferramentas que “criam” informações visuais. É o princípio básico da inteligência artificial: processar informações fornecidas e criar algo que faça sentido com base nelas - mas em momentos corriqueiros, pouco glamurosos, pra ajudar a desmistificar um pouco o assunto. Na página sobre o Adobe Sensei tem um vídeo que dá mais exemplos de ferramentas que usam a IA.
A Adobe também utiliza inteligência artificial para ajudar pessoas a “criar logotipos de qualidade” de graça e sem a ajuda de um designer.
É sério, é só clicar aqui. O Adobe Express é literalmente o Canva da Adobe; o diferencial é que dá pra reformular os modelos prontos - inclusive mais de mil modelos de logo gratuitos - com uma biblioteca de estilos que podem ser combinados e uma espécie de botão de mashup.
Você pode argumentar que o resultado vai ser tosco e ninguém vai pagar muito por ele, então até aí tudo bem. Bom, ninguém pagaria por esse logo porque a IA do Adobe Express é meio ruim. Mas tem melhores.
“Designer gráfico” de inteligência artificial russa enganou o mundo por um ano todo
É, tipo esse cara. “Cara”. Nikolai Ironov criou identidades visuais pra cafés, barbearias e blogueiros na Rússia, trabalhando no estúdio Art. Lebedev - só que tudo era inventado. Seus trabalhos e até seu rosto foram todos gerados por uma rede neural desenvolvida em sigilo pelo departamento de computação do estúdio. E as coisas que ele criou são bem maneiras:
“Ironov pode efetivamente realizar tarefas comerciais de verdade. Ele está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana, não fica doente nem tem bloqueio criativo; enquanto isso, desenvolve e resolve problemas criativos em questão de segundos. E, o mais importante, oferece visões absolutamente únicas das soluções de design”, diz o desenvolvedor-chefe do Nikolai, Roman Kosovitch.
Só eu tive a impressão de que esse desenvolvedor não curte muito direitos trabalhistas? Mas enfim, de acordo com o site oficial do Nikolai Ironov, o sistema não se baseia em outros designs, mas sim na descrição do negócio fornecida pelo cliente. Confesso que não consegui entender como essa equipe de desenvolvimento pode provar que os designs são mesmo “originais” e não fruto do processamento do trabalho de pessoas reais - fica aí o questionamento. Mas sabe quem definitivamente faz isso?
Stable Diffusion é uma inteligência artificial que gera imagens a partir de texto com base no trabalho de outros artistas
E é claro que artistas reais já começaram a demonstrar preocupação, como nessa thread. A Stable Diffusion não é a única a fazer isso - ela é uma concorrente direta da Dall-e, que viralizou recentemente no twitter (e uma Dall-e 2, melhor do que a primeira, já está sendo desenvolvida - apesar de que, pelo que pesquisei, parece que só dá pra usar essa se você for convidado). A incerteza e o medo de ser substituído por um computador vem aumentando para artistas na mesma proporção que esses modelos de IA ficam melhores no que fazem. Os resultados podem nem ser tão bons assim, mas já são bons o suficiente para que empresas, que já não gostam de pagar artistas muito bem, se aproveitem dessa situação.
Mas essa thread mostra uma outra visão sobre o assunto
Afinal, artistas não fazem arte só como trabalho. Existe uma carga de realização pessoal enorme nos ofícios criativos em geral que não se pode ignorar. Além disso, até agora obras geradas por inteligência não podem ser devidamente protegidas intelectualmente, já que teoricamente não existe autor. E IAs simplesmente não tem gosto.
“A “ameaça” das IAs é muito exagerada, na minha opinião. É como comprar um sintetizador, brincar com as predefinições e dizer: "Uau, isso se parece com músicas que eu ouvi!" Mas, na verdade, compor esse som em uma música e infundir uma narrativa relacionável requer esforço humano.” diz o autor da thread, Jon Neimeister, artista e diretor de arte.
Entre ser substituído por um computador ou não, existe um meio termo muito interessante: a colaboração
Esse artigo fala sobre como designers devem estar preparados para se adaptar e conviver com as ferramentas de inteligência artificial. Nesse cenário, o designer ainda vai ser responsável pela parte realmente criativa do trabalho e vai usar ferramentas de IA para otimizar processos, como um software que consegue, entre outras coisas, criar variações de peso de uma tipografia com os devidos ajustes ópticos.
Philip Starck colaborou com um software de design generativo para criar uma cadeira, o primeiro produto gerado por uma IA
Essa matéria da FastCompany explica essa história um pouco melhor. Mas basicamente, Philip Starck definiu parâmetros formais e criativos e forneceu eles a um software que está sendo desenvolvido pela Autodesk pra criar essa cadeira, criativamente batizada de…. “A. I.”. Acho que ele gastou as ideias na forma da cadeira, sei lá. Mas de qualquer forma é um produto extremamente inovador, principalmente porque o objetivo da colaboração era criar uma cadeira que aguentasse peso com o mínimo de material possível - um aspecto bem matemático e do campo da otimização. No site do Philip Starck tem um vídeo que mostra o processo.
E esse outro artigo mostra vários jeitos como você pode vir a colaborar com IAs
Talvez no futuro você seja o designer responsável por treinar sistemas de inteligência artificial para “trabalhos braçais”, tipo criar variações da mesma peça. Ou use sistemas generativos para melhorar o acabamento de rascunhos, ilustrações e outras peças autorais. Também pode ser que você empregue um sistema de IA para criar experiências de usuário mais personalizadas, ou analisar muitos dados que você sozinho não daria conta. As possibilidades são muitas, e bem menos assustadoras.
Meus 2 centavos sobre o assunto
Eu vou ter que parafrasear William Morris em sua palestra Como vivemos e como poderíamos viver. Morris foi um crítico da industrialização, mas não por simplesmente odiar ou ressentir as máquinas - e sim por discordar de como as novas tecnologias eram empregadas. Para ele, as máquinas não seriam ruins se elas pudessem ser usadas para diminuir a carga laboral dos trabalhadores e permitissem que os homens tivessem mais tempo livre, para o lazer e para arte. Mas elas estavam sendo empregadas - e são até hoje - para aumentar o lucro dos donos das fábricas, sem necessariamente melhorar as condições de trabalho. E eu acho que é assim que me sinto em relação as IAs: eu gostaria de poder empregá-las em tarefas repetitivas e que tomam mais tempo, desde que a consequência disso seja mais tempo livre, de descanso ou criação; e não mais “produtividade” para as grandes corporações e designers e criativos eternamente exaustos.
ufa! esses foram os links da edição de hoje. confesso que passei por altos e baixos pesquisando sobre esse assunto, mas terminei os textos me sentindo mais segura em relação a ele. e claro, existe muito mais pra falar sobre inteligência artificial. mas eu espero que essa curadoria de links (foram 12!!) seja um bom pontapé inicial para a sua exploração pessoal pelo assunto, se ele é do seu interesse. fique a vontade para responder esse e-mail se quiser conversar, compartilhar algo ou até mesmo criticar algum ponto da newsletter. espero que esse possa sempre ser um espaço de troca.
até a próxima terça!
- hele
agradecimentos: essa edição foi inspirada pela edição 176 da bits to brands que mostrou um site gerador de logos com “designers” de mentira, e também por tweets sobre arte e IAs feitos e compartilhados pela minha amiga tori, uma artista incrível. obri <3
📨 Perdeu a última edição?
👩🏻💻 curadoria e textos por hele carmona, jornalista & estudante de design
💡 tem algo incrível que você gostaria de compartilhar comigo e com outros leitores da makers gonna make? pode me mandar por aqui!