#31 batalha gráfica: Holmes vs. Tufte
ou "o debate sobre poluição gráfica e a importância das nuances" | tempo de leitura: 6 minutos
se você trabalha com criação gráfica, é possível que já tenha escutado: “esse elemento não está acrescentando nada ao layout. melhor tirar!”. esse tipo de discurso é especialmente forte na área de visualização de dados, graças ao trabalho de Edward Tufte. ao defender o minimalismo extremo na produção de gráficos, ele fez um inimigo: o famoso designer de gráficos Nigel Holmes. essa richa é o ponto de partida da edição de hoje, sobre ornamentos, interesse do leitor e boas práticas na visualização de informações. vamos?
🥊 Quem são Nigel Holmes e Edward Tufte?
Nigel Holmes é um designer de gráficos famoso pelas peças que produziu para jornais e revistas, especialmente nos anos 1980. Ele frequentemente usava ilustrações e elementos gráficos considerados divertidos como base para a informação numérica.
Já Edward Tufte é um professor de estatística e design gráfico que odeia os gráficos de Nigel Holmes. Eu não estou exagerando e nem insinuando nada: em seu livro Envisioning Information (1990) ele escreveu o seguinte sobre o famoso gráfico dos diamantes:
“(…) É repleto de clichês e estereótipos, humor grosseiro e uma terceira dimensão vazia de conteúdo. Tudo conta, mas nada importa. Por traz de toda a poluição visual está o desprezo, tanto pela informação quanto pelo público. Defensores da poluição gráfica acham números e detalhes chatos, monótonos e tediosos, exigindo ornamentos para tornar [o gráfico] mais vivo. A decoração cosmética, que frequentemente distorce os dados, nunca salvará um falta de conteúdo.”
Tufte é um dos maiores especialistas sobre visualização de dados no mundo e em 1983 cunhou a expressão chartjunk - nessa edição, vou usar o termo em português poluição gráfica. Chartjunk é qualquer elemento não essencial para a visualização de informação; isso inclui fundos coloridos, rótulos ou legendas redundantes, bordas, efeitos 3d e qualquer ornamento gráfico criativo “sem dados”, incluindo ilustrações e fotografias - para ele, tudo isso deve ser removido.
🎨 Qual é o real problema com ornamentos criativos em gráficos?
É justo comentar que Holmes fazia gráficos para revistas e jornais, que são relativamente simples, e Tufte é um professor de estatística, certamente acostumado com visualizações muito mais complexas. O controverso gráfico dos diamantes, que Tufte escolheu para comentar, expressa apenas dois níveis de informação: a variação do preço médio de diamantes e a passagem do tempo; a ilustração certamente chama a atenção dos leitores e talvez, por ser mais interessante, possa ter algum efeito na memória de longo prazo sobre o gráfico, como alguns estudos já sugeriram.
Há gráficos muito mais complicados e que precisam expressar mais dimensões e comparar todas elas em um único visual. Nesse caso é muito mais provável que elementos criativos se tornem ruídos, mas não é o caso do trabalho de Holmes. O que pra mim torna essa richa entre os dois especialmente engraçada é que o Tufte não poderia prever o quão pior a poluição gráfica se tornaria com o advento e popularização de programas como o Excel e o PowerPoint.
Ilustrações, cores e símbolos que tenham relação com as informações numéricas do gráfico podem ser bons, se despertarem interesse e contribuírem para a retenção do que foi lido. Vamos ser sinceros: se nós não aguentássemos muitos estímulos simultâneos, a população de qualquer área urbana com a acesso a internet já teria sido dizimada. Da mesma forma que comentei na edição 13, sobre maximalismo, não é um desenho ou outro que vai arruinar a assimilação de um gráfico, mas sim se esse gráfico é eficiente ou não, de forma geral. Talvez o maior erro nessa discussão seja tentar comparar ótimos gráficos artísticos e ótimos gráficos minimalistas, ignorando os reais inimigos da visualização: os gráficos ruins.
📈 A simplicidade também pode falhar
Da mesma forma que nem todo gráfico com elementos criativos é necessariamente um gráfico ruim, nem todo gráfico sem eles é bom. No artigo The Chartjunk Debate, Stephen Few compara dois gráficos “Tuftianos” diferentes com um gráfico de Nigel Holmes:
Para Stephen Few, não adianta falar sobre poluição gráfica usando gráficos minimalistas ruins na comparação. Sobre os exemplos acima, eles escreve o seguinte1:
“O primeiro gráfico (à esquerda) é apenas feio. Ele ignora os princípios básicos do design, resultando em um visual desnecessariamente desagradável para os olhos. Ao exibir apenas os contornos das barras (sem cor de preenchimento) e delimitar o gráfico como um todo em uma borda de igual destaque aos contornos das barras, é criado um efeito visual desconfortável. O segundo gráfico (no centro) é uma segunda versão, com design melhor. Agora, quando comparamos esta versão simples com a versão “embelezada” de Holmes (à direita), não é difícil entender por que a imagem embelezada pode ficar em nossas cabeças por mais tempo e por que ambos os gráficos fazem um trabalho igual de comunicar a mensagem básica de que os metalúrgicos são pagou muito mais nos Estados Unidos do que em qualquer outro lugar, especialmente na Coreia do Sul. Mas se quisermos cavar mais e comparar os valores, só podemos usar a versão embelezada para fazer isso lendo os números, pois os elementos gráficos falham neste teste.”
🏆 Afinal, quem vence, Holmes ou Tufte?
Foi Tufte quem começou a richa ao citar Holmes diretamente; e Holmes chegou a responder às críticas de Tufte em algumas entrevistas. Apesar de soar como fofoca, a discordância pública dos dois traz a tona um debate com muitas camadas e que merece atenção.
Um gráfico de Holmes não pode ser representativo de tudo o que é produzido com ornamentos; e um gráfico preto e branco não pode ser o único referencial de um gráfico Tuftiano. Há nuances, e além de tratar bem os dados representados, é preciso considerar também o contexto: qual a complexidade do gráfico? Onde vai ser publicado? Quem precisa compreender as informações exibidas?
Também tem a ver com habilidades: Holmes é um bom designer de gráficos e seus designs cumprem o seu propósito. Um designer menos experiente pode não obter o mesmo resultado. Da mesma forma, alguém que ignora os princípios do bom design de informação pode falhar com uma abordagem minimalista.
Por fim, a própria definição de Tufte de poluição gráfica é um pouco vaga. Já para Stephen Few, que também citei na edição de hoje,
“nada que apoie a mensagem do gráfico de forma significativa é lixo. (…) A questão fundamental é se os enfeites apoiam os dados ou, em algum grau, os distraem ou os distorcem”.
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adorei conhecer os gráficos deste querido nigel homes. a outra recalcada é apenas básica.