#81 trajan, a fonte que conquistou hollywood
diretamente do ano 113 para os maiores cinemas do mundo | Tempo de leitura: 5 minutos
o que “Titanic” (1998), “O Senhor das Armas” (2005) e “A centopeia humana 3” (2015) têm em comum? acertou quem pensou os três filmes usam a fonte Trajan em seus pôsteres! a Trajan também marca presença em franquias como O Senhor dos Anéis e Star Wars, além de muitos, muitos outros filmes — eu tentei achar uma lista completa, mas o melhor que encontrei foi essa lista no letterboxd, que tem 752 títulos (e a própria criadora da lista admite que não são todos) — acho que já dá pra provar o ponto. mas como chegamos até aqui?
📜 como a Trajan surgiu?
Trajan (ou Adobe Trajan) é uma fonte serifada composta apenas por capitulares projetada em 1989 por Carol Twombly para a Adobe. Ela se interessava por tipografias históricas e desenhou a Trajan com base nas inscrições da Coluna de Trajano, famoso monumento romano do século II. No mesmo ano, junto com sua equipe na Adobe, ela também projetou duas outras fontes com base em modelos históricos:


Para desenhar a Trajan, Carol contou com material de muita qualidade para se inspirar: o entalhador de tipos Christopher Stinehour forneceu um fac-símile em tamanho real da Coluna da Trajano para servir de modelo para a versão digital da Trajan. A versão final da fonte foi incluída nas predefinições dos softwares da Adobe, que estavam começando a conquistar o mercado do design gráfico no início dos anos 1990, e foi assim que ela começou a ser utilizada por muitos designers em peças gráficas.
Essa não foi a primeira fonte a se inspirar na Coluna de Trajano: algumas propostas anteriores foram a Weiss de Emil Rudolf Weiss (1926), Trajan Title, de Frederic Goudy (1930), Trajanus, de Warren Chappell (1939) e Diotima de Gudrun Zapf-von Hesse (1951). Mas a Trajan de Carol foi a primeira a se tornar popular.
😎 como a Trajan ficou tão popular?
Não é fácil apontar o que exatamente fez a Trajan explodir; ou especificamente seu uso em cartazes. Pode ter sido o fato de que ela foi projetada para ser usada em tamanhos grandes, por ser muito distinta das outras fontes disponíveis para computadores na época ou simplesmente por ser pré-instalada nos softwares da Adobe. Hoje em dia, não importa: ame ou odeie, é preciso admitir que a Trajan é uma fonte icônica.
Yves Peter é um designer que estuda tipografia com uma atenção especial ao uso da Trajan em cartazes de filmes americanos. De acordo com ele, o primeiro poster de filme a usar a fonte foi Brincando nos Campos do Senhor (1991). E depois apareceu em O Guarda-costas (1992), Perfume de Mulher (1992), Proposta Indecente (1993), e enfim, não parou mais de ser usada.
É curioso pensar que uma fonte projetada a partir de uma referência muito específica e que tinha tudo pra ser usada de maneira muito clichê (em qualquer filme sobre gladiadores romanos e até erroneamente em outros filmes sobre Antiguidade) acabou sendo ressignificada como versátil. A Trajan está presente em cartazes de todos gêneros, das comédias românticas aos filmes de terror. Esse vídeo curtinho da Vox fala um pouco sobre isso e mostra mais exemplos do que eu conseguiria citar por escrito.
A popularidade da Trajan vai além dos filmes, tendo sido utilizada também em Game of Thrones e até em videogames como o Battlefront (e outros, mas eu não jogo videogame sem ser da Nintendo e não achei nenhuma informação muito robusta sobre isso).
📆 A relevância da Trajan hoje em dia
Como o Yves Peter explica no vídeo para a Vox, depois de um boom nos cartazes de filmes famosos, a Trajan começou a ser considerada um clichê, e também a ser usada em filmes que queriam parecer grandes sucessos, mas não eram. Algumas pessoas podem achar que isso “desvalorizou” a fonte, mas eu acho que só reforça o quanto ela é importante para essa linguagem relacionada ao cinema. E se eu tiver a chance eu vou usar a Trajan em um cart- ok, eu estou brincando.
Independente disso, é preciso reconhecer o mérito da Trajan de Carol Twombly: a Trajan original, da Coluna de Trajano, é apontada como a fonte mais antiga do mundo, e foi a sua digitalização que permitiu que ela dominasse Hollywood e chegasse em quase todo lugar.
Carol se aposentou da carreira tipográfica em 1999, mas a Adobe continuou lançando atualizações da Trajan com sua consultoria, e em 2012, a versão existente foi significativamente revisada (e passou a se chamar Trajan Pro 3), com Robert Slimbach adicionando quatro pesos adicionais e caracteres cirílicos e gregos. Também foi lançada uma versão sem serifa, o que é super bizarro, porque a graça da Trajan é justamente ser uma fonte serifada atemporal. Mas enfim, é parte do seu enorme legado também.
🗓️ save the date!
Você é do Rio ou vai estar por lá nos dias 15 e 16 de março?
Vai rolar mais uma edição da Delícia Impressa e eu vou estar lá como expositora! Vou levar zines, pôsters e - atenção - os últimos exemplares de Glifo por glifo, que estavam reservados pra esse tipo de evento :) Aparece por lá mesmo que seja só pra tocar uma ideia <3
essa edição foi originalmente enviada em janeiro de 2023 para pouco mais de 500 inscritos. ela inaugurou a série “história das coisas”, na qual eu dedicava uma edição por mês para contar a história de um artefato que me suscita curiosidade. mas acabei ficando sem ideias e abandonei a série depois de 7 meses. você tem alguma sugestão pra mim? fique a vontade para comentar responder esse e-mail :) espero que esse possa sempre ser um espaço de troca. e se você conhece alguém que pode gostar desse texto, que tal compartilhar a edição?
Esses posts são um SONHO pra quem ama cinema feito eu mas também aquele quê de curiosidade por design! ❣️
você acabou de me dar muito repertório para conversas com o meu namorado que faz cinema, obrigada!