#75 um convite pra 2025: comece um projeto pessoal
feliz ano novo ✨ | tempo de leitura: 10 minutos
oie! seja bem-vinde à primeira edição da makers em 2025 :) pra quem chegou recentemente, eu sou hele carmona, jornalista & designer. na edição de hoje quero convidar todos vocês a darem início a um projeto pessoal ao longo do ano. vou cobrir os pontos mais importantes, desde o que é um projeto pessoal até como escolher um projeto que caiba na sua rotina. se ao final desse texto 1 pessoa estiver convencida a começar, vou ser a escritora de e-mails mais feliz do mundo <3
🎨 o que é um projeto pessoal?
Buscando uma definição sucinta, eu gostei bastante dessa da Rock Content:
”um processo ou objetivo que gere satisfação e motivação a um profissional fora de seu trabalho — tendo ou não relação com ele. Pode ser a execução de uma nova ideia, um hobby ou uma viagem, etc.”
Mas, para os efeitos dessa newsletter, eu também gostaria de dizer o que um projeto pessoal não é (ou não deve ser), na minha opinião:
Um sinônimo para qualquer objetivo pessoal. Talvez você tenha muita vontade de se casar e formar uma família; mas aqui estamos pensando em coisas mais ligadas ao fazer criativo, como aprender a tricotar ou escrever um livro.
Um side hustle, ou seja, um negócio ou uma forma de gerar renda extra. Você já ouviu falar que “a melhor forma de matar um hobby é monetizá-lo”? É a mesma linha de pensamento aqui: “[Monetizar uma atividade] realmente muda o “porquê” que fundamenta o hobby e pode significar que ele agora envolve prazos, produção e a necessidade de atender aos desejos dos clientes, em vez de ser guiado pela criatividade ou diversão”.
A makers é um projeto pessoal, por exemplo. Quando criei a newsletter, o meu objetivo era desenvolver minha escrita e compartilhar conteúdo sobre design; a minha meta aferível era publicar um texto por semana. Não havia intenção específica de monetização, uma meta de audiência ou qualquer relação com o meu emprego formal.
Um outro exemplo é o meu projeto pessoal de 2025, o heleletters. Ele tem um foco mais artístico/visual e menos teórico. Meu objetivo é testar uma técnica de criação analógica diferente a cada semana, uma letra do alfabeto por vez. As letras não precisam ser perfeitas, e eu não pretendo fazer nada com elas; é apenas um espaço para entrar em contato com mais técnicas manuais e relaxar, criar sem qualquer obrigação.
O que há em comum nesses dois projetos e que os define como “projetos pessoais” é que a ênfase está no processo (escrever, criar), e não no resultado.
📝 por que ter um projeto pessoal?
A internet está cheia de pessoas defendendo a instrumentalização de projetos criativos pessoais para gerar renda extra ou algo como fortalecer sua marca pessoal, criar autoridade, blablabla. Eu sugiro que você comece um por outros dois motivos: curiosidade e prazer.
Uma técnica que você nunca testou antes, como colagem, crochê ou pintura a óleo. A possibilidade de encontrar o seu estilo pessoal na escrita ou na produção gráfica. Uma área que você nunca teve a oportunidade de explorar trabalhando em empresas ou com clientes, como a fotografia ou a maquiagem artística. Essas coisas não te geram curiosidade? No heleletters, eu não faço ideia de como vou desenhar todas as letras do alfabeto, numerais e alguns caracteres especiais ao longo do ano, cada um com uma técnica diferente. Esse “não saber” me torna ansiosa pra descobrir, e é um sentimento tão bom :)
Agora eu poderia simplesmente te dizer que criar e fazer arte é gostoso, algo que por si só traz prazer. Criar é irado. E no entanto, eu gostaria de trazer um pouco da visão de William Morris sobre isso. Em O prazer como produtor de arte segundo William Morris, Valter V Costa discorre sobre a ideia de Morris de que a arte é consequência do prazer no trabalho — qualquer trabalho, independente do formato final da produção. “Se expressa prazer, é arte”. Esse prazer requer que alguns parâmetros sejam cumpridos para existir, sendo alguns deles
“a ausência de ansiedade no que diz respeito ao sustento; a introdução de ornamento – produção de beleza – no trabalho; a variedade na ocupação e como cada tipo de atividade atende a uma habilidade do trabalhador; o uso limitado da máquina e a redução do tempo de trabalho.”
Morris era socialista e as condições que ele propõe não poderiam ser mais distantes da atual situação do mercado de trabalho; mas podem ser cultivadas, mesmo que em menor escala, na idealização de um projeto pessoal. Vamos lá:
Se o projeto pessoal não é um side hustle e nem parte de um emprego formal, ele não está associado a ansiedade no que diz respeito ao sustento;
Como não há um briefing ou um objetivo comercial, a produção de beleza e ornamentação pode ser 100% baseada no seu gosto e satisfação pessoal
A variedade na ocupação diz respeito a duas ideias de Morris: a crítica à divisão do trabalho e a crença de que qualquer trabalho, por melhor e mais leve que seja, pode se tornar entediante se repetido demais. Em um projeto pessoal, é comum que o criador seja responsável por todas as etapas de produção de uma peça ou artefato, o que garante sua autonomia em relação ao trabalho. Por não ser uma obrigatoriedade, o projeto pessoal pode ter a duração que o criador quiser que tenha. Se enjoar em dois meses, é só finalizar o projeto e buscar felicidade em outra coisa :)
[Disclaimer: aqui você pode pensar que estou dizendo pra você que não precisa persistir, mas não é isso. Dedicação é essencial para levar um projeto pessoal pra frente; dito isso, não se obrigue a fazer coisas que você claramente não está curtindo!]
Morris era muito crítico da industrialização e do trabalho industrial, e é por isso que menciona o uso limitado da máquina e a redução do tempo de trabalho (ele quer dizer a jornada mesmo). Considerando que designers e outros profissionais criativos frequentemente passam todos os dias úteis utilizando computadores, é bem interessante que busquem projetos pessoais com base em técnicas analógicas e uso reduzido de máquinas; além disso, não há nenhum motivo para trabalhar no seu projeto pessoal até a exaustão. Se dedicar é ótimo, mas se fosse pra passar 8h/dia no seu projeto pessoal, você poderia simplesmente chamar de emprego. O projeto pessoal nos permite que trabalhemos pelo tempo que isso for confortável e prazeroso.
Enquanto eu acredito que projetos pessoais devem ser guiados pela curiosidade e pelo prazer, eles acarretam em duas consequências bastante agradáveis: o aprendizado e o desenvolvimento do estilo.
Ao entrar em contato com uma nova técnica é comum ser um pouco terrível nela, mas a prática constante leva à melhoria e quando menos esperamos, puff: sabemos fazer bem uma coisa que antes não sabíamos.
Além disso, nas profissões criativas há uma certa ênfase na autoria e no estilo. Cada profissional acaba por ter sua prática moldada por suas experiências prévias, estudos, oportunidades profissionais e gostos pessoais. O projeto pessoal é um ótimo espaço para explorar o próprio estilo, além de poder combinar isso com a experimentação de novas técnicas e formatos. Muitos profissionais não conhecem o próprio estilo ou sentem que não têm uma assinatura, e isso não é culpa deles de forma individual, mas provavelmente a falta de oportunidade de se expressar livremente.
🎭 como escolher um projeto pessoal?
Um projeto pessoal deve estar alinhado com seus gostos e interesses pessoais, além de caber na sua rotina e no seu orçamento. Bonus points se o seu projeto pessoal envolver amor (mais sobre isso daqui a alguns parágrafos). Tente manter seu projeto simples, sem planejar muito à frente.
Se você tentar fazer algo que não é compatível com a sua rotina, pode ser que você se frustre e desista. O tempo em um projeto pessoal tem duas dimensões: o tempo de cada sessão de trabalho e a frequência. Eu não tenho tanto tempo livre, então apesar de escolher um projeto semanal, eu optei por uma tarefa de baixa complexidade (desenhar UMA letra). Outra pessoa pode preferir se dedicar por várias horas numa tarefa de complexidade mais alta (como pintar um retrato com tinta acrílica) numa frequência menor, como uma vez por mês.
Alguém que se propõe a pintar uma aquarela em todo primeiro sábado do mês terá ao final de um ano 12 aquarelas às quais se dedicou do início ao fim: escolheu o que pintar, fez o rascunho a lápis, coloriu em várias camadas. Isso é infinitamente mais do que zero aquarela.
Da mesma forma que o seu projeto pessoal não deve gerar ansiedade em relação ao seu sustento, é justo que também não gere ansiedade em relação à sua fatura do cartão. Hobbies, crafts e criatividade são passíveis de cooptação pelo capitalismo digital (aliás, ter hobbies é viral no tiktok (leia aqui ou aqui) e você com certeza vai encontrar vídeos e artigos com o título “8 coisas que você PRECISA pra começar a fazer colagens”(com links de afiliado, claro).
O custo de um projeto pessoal vai variar de acordo com a técnica (ou as técnicas) que você deseja explorar e com qual frequência. A cerâmica tradicional, de argila, é conhecida como uma técnica relativamente cara por exigir materiais, aulas e queima em fornos especiais; a colagem pode se tornar um projeto pessoal quase de custo zero, se você utilizar encartes, panfletos e outros materiais gráficos gratuitos (e uma cola bastão deve custar menos de 3 reais); já o tricô pode ser um meio termo, já que dá pra comprar a maioria dos materiais (agulhas e algumas cores de linha) por menos de 50 reais. E, naturalmente, tricotar todos os dias vai gastar mais linha (e grana) do que tricotar uma vez por semana ou uma vez por mês.
Na hora de decidir suas metas, eu sugiro que você as crie com base no processo e não no resultado. Escrever 50 minutos toda sexta feira é melhor do que escrever um livro. Separar uma tarde de domingo para fazer colagens é melhor do que criar uma colagem perfeita. Aprender a costurar e confeccionar uma peça no meu estilo é melhor do que costurar uma saia incrível. Não se preocupe se parece muito difícil agora: se você pensar com carinho, eventualmente vai saber o que fazer.
❤️🔥 criar é uma forma de amor
Por fim, considere que o seu projeto pessoal pode ser uma forma de afeto. Será que não tem algo que seus familiares ou amigos podem te ensinar e que pode se desenvolver em uma prática pessoal? Ao contrário do que o nome pode levar a pensar, um projeto pessoal não é algo que você precisa fazer 100% sozinho. Pode ser começar um curso de desenho junto com uma amiga. Pode ser aprender a cozinhar e fazer um almoço por semana pra sua família. Pode ser aprender bordado com a sua mãe, como a Susan Kare aprendeu quando criança e décadas depois usou a lógica de pontos = pixels pra criar ícones digitais para a Apple. Na verdade, seu projeto pode até ser conduzir uma entrevista por mês com mulheres designers que você admira — ou seja, essencialmente, seu projeto seria conversar com gente foda (quem quiser fazer esse, publique e me mande o link depois, heheh). Criar e explorar são formas de amor — e eu desejo muito amor no seu ano de 2025 🩷
💫 algumas novidades!
Ainda tenho 8 exemplares de Glifo por glifo :) Quem tiver interesse, basta fazer um pix no valor de 68 reais para a chave contato@helecarmona.com e me mandar comprovante + o endereço de entrega no mesmo e-mail ou no instagram. O envio para todo o Brasil está incluso.
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No finalzinho do ano passado saiu meu segundo artigo na Revista Recorte: Redescobrir a mão humana, sobre Inteligência Artificial e criatividade. Dá uma lida e me diz o que achou? :)
obrigada por ler até aqui! e aí, já tem um projeto pessoal em mente para começar em 2025? fique a vontade para responder esse e-mail — eu espero que esse seja sempre um espaço de troca. e se você acha que alguém que você conhece gostaria dessa edição, compartilhe :)
Li essa edição logo depois de ler o ato criativo, e só aumentou meu desejo de criar um projeto pessoal também. O que mais acho incrível é esse ciclo de criar & nos inspirar > compartilhar > inspirar outras pessoas. obrigada por compartilhar ✨
obrigada por essa News. começando hoje meus textos sobre os álbuns que eu gostei em 2024 (e assim por diante rs) e a primeira linha dele já é te agradecendo pela inspiração <3