contagem regressiva: o filme da Barbie sai em menos de um mês. eu não sei que cantos da internet você costuma frequentar, mas onde eu frequento, só se fala disso. há um tempinho quero falar sobre a Barbie na makers - afinal, é uma boneca criada há mais de 60 anos que ainda é popular com um design super parecido em 2023; e que encanta não só crianças, mas super-fãs e colecionadores de todas as idades pelo mundo. mas como falar da Barbie sem contar sua história “comum”, que já foi publicada tantas vezes na internet?
antes de começar: no início de agosto a makers gonna make completa um ano e gostaria de escrever uma edição especial respondendo perguntas dos inscritos. pra deixar a sua pergunta é só preencher esse forms - pode ser anônimo!
👗 A importância das roupas da Barbie
Se você está minimamente familiarizado com uma Barbie, sabe que existem muitas edições da boneca, mas todas meio parecidas (em muitos casos, iguais). Quero dizer o corpinho, o rosto, o cabelo, etc. A Barbie bombeira não tem um corpo diferente da Barbie bailarina, apesar de que muito provavelmente as atividades cotidianas de cada uma dessas profissões resultaria num shape diferente. Mas o que diferencia a Barbie bombeira da Barbie bailarina são as suas roupas.
E o que tornou a Barbie tão especial sempre foi justamente isso: ela podia ser qualquer coisa que quisesse. A linha do tempo oficial da Barbie conta essa história:
“Ruth Handler viu que as opções de brinquedos de sua filha eram limitadas. Ela só podia brincar de mãe ou cuidadora, enquanto seu filho tinha brinquedos que permitiam que ele se imaginasse como bombeiro, astronauta, médico e muito mais. Isso inspirou Ruth a criar uma boneca que mostrava às meninas que elas tinham escolhas – que podiam ser qualquer coisa.”
Lançada em 1959, Barbie é loira de olhos azuis, e só surgiram Barbies de outras raças e etnias na década de 19801. Não que elas fossem muito populares ou fáceis de encontrar - eu tive Barbies nos anos 2000, e só me lembro das prateleiras serem 80% Barbie (a original, loira), 15% Teresa (a amiga morena) e 5% Nikki (a amiga negra). Então mesmo que existissem Barbies diferentes, elas eram difíceis de encontrar, e o que realmente tornava uma Barbie diferente (e justificava que você quisesse comprar mais uma, mesmo ela sendo meio que igual às outras) era estar com outra roupa - porque aí ela tinha uma outra vida, outras possibilidades.
Com os anos, a Barbie foi se transformando, se tornando mais inclusiva. Com ressalvas, é claro, e em movimentos muito orientados pelo mercado e a demanda crescente por diversidade. Mas suas roupas nunca deixaram de ser uma parte muito importante de cada lançamento. E quem, ao longo da história da boneca, foi responsável por suas escolhas de moda?
🪡 Carol Spencer, a estilista pessoal da Barbie por 35 anos
Carol Spencer foi a designer e estilista da Barbie de 1963 até 1998. Ela contou em uma entrevista ao Yahoo Finance que o maior desafio era “criar designs de moda que fossem fáceis de uma criança entender, pra que ela pudesse sonhar seus próprios sonhos a partir daquela boneca”. Ao portal Insider, ela explicou como começou a trabalhar na Mattel:
“Quando eu me formei no ensino médio [nos anos 1950], só haviam cinco ocupações para as mulheres: professora, enfermeira, secretária, atendente ou esposa e mãe. Mas a Mattel começou a anunciar vagas para o cargo de designer da Barbie, e eu soube que era o que eu queria para a minha carreira.”
Na primeira vez que aplicou para a vaga, não obteve nenhum retorno; mas não desistiu. E da segunda vez foi chamada para o emprego dos sonhos. Carol, que estudou belas artes, buscava inspiração em todos os lugares: nas ruas, nos desfiles de alta costura, na cena musical, na realeza… Na época, o trabalho de design ainda não era auxiliado por computadores. Eram croquis, agulha e linha. Carol realizou tantos trabalhos manuais que chegou a perder suas impressões digitais, mas o esforço valeu a pena: sempre se adaptando às novidades, a boneca se manteve relevante, como um ícone da moda americana.
Em 2019, então com 86 anos, Carol lançou o livro Dressing Barbie: A Celebration of the Clothes That Made America's Favorite Doll and the Incredible Woman Behind Them. O livro conta com mais de 100 fotografias de looks da Barbie dos anos 1960 aos anos 1990, além de histórias dos bastidores, como a relação entre Carol e a Ruth Handler (a criadora da Barbie) e Charlotte Johnson (a primeira designer da boneca).
👠 Quem veste a Barbie hoje?
É claro que não é apenas uma pessoa. Já na época de Carol Spencer havia uma equipe, é claro, mas quanto mais personagens, mais edições e mais complementos no universo da Barbie (casas, escritórios, carros, etc), mais pessoas são necessárias na equipe. Carlyle Nuera, Leader Design na linha Barbie Signature, contou em uma entrevista2 que
“A equipe de design da Barbie é enorme. Há designers para tudo, para os carros, para as Dream Houses… Eu trabalho para a Barbie Signature, desenho Barbies de colecionador. São mais caras, têm mais detalhes e muitas vezes trabalhamos com designers de moda ou em torno de filmes. Temos designers só para pintar o rosto das bonecas, outros só para os cabelos, costureiros, designers gráficos, escultores. Trabalho com todos para transformar um desenho num protótipo. É realmente preciso uma aldeia inteira para criar uma Barbie.”
Carlyle é um nome importante em uma nova fase da Barbie. Ok, não tão nova - ele já trabalha nisso há mais de 10 anos, mas é uma nova mentalidade. Apesar do valor de seu trabalho criativo ser incontestável, Carol Spencer não via nenhum problema no corpo extremamente magro ou na branquitude onipresente da Barbie (ela fala sobre isso na entrevista ao Yahoo). Para ela, que dizia ter um corpo muito parecido com o da boneca na época que desenhava suas roupas, a Barbie não precisava necessariamente representar uma mulher real; ela também disse acreditar que as crianças eram capazes de se identificar com a boneca Barbie independente de sua raça ou aparência. Carlyle Nuera, por outro lado, está inserido em um contexto completamente diferente, em que a Barbie - como uma boneca, como um ícone pop e como uma marca - precisa ser melhor do que isso.
“O melhor elogio que eu poderia receber como designer é quando alguém se sente visto ou representado por uma Barbie que eu projetei.”
Carlyle Nuera
Em uma entrevista ao Museu de História Natural de Los Angeles (vídeo acima), Carlyle conta sobre sua carreira, os princípios de seu trabalho e como sua assinatura pessoal transparece em seus designs, sem nunca abandonar o lema: seja o que você quiser.
Bônus: quem veste a Barbie no filme de 2023?
Jacqueline Durran, figurinista que já foi ganhadora do Oscar de Melhor Figurino com o filme Adoráveis Mulheres. Ela falou sobre como é vestir a Barbie em um filme tão aguardado em uma matéria para a Vogue (em inglês).
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obrigada por ler até aqui :) essa foi uma edição um pouco mais leve depois de algumas semanas lutando pra não passar do limite de texto que cabe num e-mail. como sempre, fique a vontade para responder esse e-mail se quiser conversar, compartilhar algo ou até mesmo criticar algum ponto da newsletter. espero que esse possa sempre ser um espaço de troca. e se você conhece alguém que está animado com o novo filme da Barbie, que tal compartilhar essa edição? :)
No final dos anos 1960 Barbie já tinha “amigas” que não eram brancas, mas elas não eram Barbies, eram amigas da Barbie.
Essa entrevista foi publicada em português de Portugal e eu adaptei um pouco a citação pra maior clareza/menos estranheza pra leitores brasileiros. Mas você pode ler a entrevista original.
Estou vivendo ou só esperando o filme da Barbie? Haha amei o texto, acho incrível como daqui a pouco essa boneca vai ter 100 anos e a gente ainda vai estar descobrindo coisas interessantes sobre ela, bem, não é só uma boneca né...