#17 onde estão os designers pretos?
o racismo e a falta de representatividade ainda prejudicam a trajetória de designers pretos | tempo de leitura: 5 minutos
domingo foi dia da consciência negra. na internet, costuma ser o único dia no ano em que as marcas, influenciadores e outros portais de conteúdo se lembram da existência de profissionais pretos. no design, o problema da falta de representatividade é tão grande quanto em qualquer outra área. hoje trago dois textos que podem ser o pontapé inicial de uma exploração individual mais profunda desse problema (e das ferramentas para combatê-lo) - mas também me comprometo publicamente a fazer isso em futuras edições. vamos?
❤️ para se inspirar
6 Designers Negros influentes que todos deveriam conhecer
Onde estão nossas referências negras em Design? É essa pergunta que norteia um artigo de 2018 no Medium do designer Wagner Silva. Motivado ao constatar que muitos colegas de profissão e estudantes não conhecem referências pretas no design, clássicas ou contemporâneas, listou seis designers negros que todos deveriam conhecer.
Eu conhecia só uma entre os seis designers da lista, a Gail Anderson; e entendo que é justamente por isso que o artigo deve ser compartilhado. Em um trecho, o autor escreve:
Os olhos não vêem, mas o coração sente
Como disse Eli Kince, designer e historiador: “a escassez de profissionais negros de design não apenas significa que existem poucos modelos para jovens designers negros, mas também, menos oportunidades de emprego”. Tomar ciência da nossa cultura e de quem fez, e ainda faz, pelo fortalecimento dela, é fundamental para superarmos os desafios de sermos negros em um país institucionalmente racista, e profissionais de design em ambientes extremamente elitizados.
Depois de conhecer esses designers mais “clássicos”, com carreiras já estabelecidas e premiadas, vale a pena conhecer outro projeto do Wagner Silva: o banco de talentos Designers Negres no Brasil. Qualquer designer negro pode enviar suas informações profissionais e pessoas contratando podem conhecer seu trabalho e entrar em contato. Uma iniciativa muito necessária e que também vale a pena compartilhar!
💭 para refletir
Um pecado de omissão - desequilíbrio imoral
“Minha pesquisa me colocou no trajeto de explorar a ausência da América negra dispórica no campo do design gráfico. Meu intuito é trazer para o primeiro plano essas pessoas que descendem de qualquer um dos grupos raciais negros da África e que contribuíram para o design, com pouco ou nenhum reconhecimento em salas de aula ou livros de história.
Essa pesquisa abriu os meus olhos para o impacto de alguns designers afroamericanos excepcionais, sobre os quais eu não saberia se não houvesse embarcado nessa jornada.
Meu objetivo é incluir esses designers afroamericanos, que vêm sendo vítimas do pecado da omissão na história do design, para dentro dos nossos livros e salas de aula, servindo assim de modelo e referência para todos os futuros designers.”
- Pierre Bowins
Eu queria muito ter encontrado algum artigo semelhante sobre designers negros brasileiros. Além do DPBR, que já apresentei nessa edição, eu simplesmente não encontrei. Por isso, se você conhece algum artigo ou obra sobre isso, por favor, compartilhe comigo e outros leitores da makers! Dito isso,
“Um pecado de omissão - desequilíbrio imoral” é um artigo do designer e pesquisador Pierre Bowins, traduzido por Guilherme Ribeiro para o UX Collective. O texto explora o apagamento dos designers pretos dos livros de história e, consequentemente, das salas de aula de design e das narrativas que conhecemos enquanto estudantes e profissionais. Além disso, Bowins apresenta o perfil e o trabalho de alguns designers que não aparecem na lista de Wagner Silva, então é uma oportunidade para conhecer mais nomes importantes para essa narrativa. O artigo se encerra com uma frase de James Baldwin, que sintetiza o principal ponto de Bowins; precisamos falar - e escrever - mais sobre isso:
Nem tudo que se enfrenta pode ser mudado, mas nada pode ser mudado até ser enfrentado.
👑 menção honrosa
A jornada revolucionária de Emory Douglas
Pra fechar a makers de hoje (e acatando a sugestão do meu amigo Gabriel Andrade, que revisou essa edição), indico uma pequena biografia de Emory Douglas. Douglas é um designer e artista gráfico americano nascido em 1943, e seu primeiro contato com o design foi na adolescência, enquanto estava em um reformatório. Aos 22 anos, ele se tornou o Ministro da Cultura do partido Panteras Negras, e permaneceu no cargo de 1967 até 1980 (quando o partido acabou), onde foi o responsável pelo projeto gráfico do jornal homônimo do grupo, desde as decisões estéticas até os pôsteres que ilustravam cada edição.
Suas obras ilustraram - e denunciaram - a violência policial contra a comunidade negra, a desigualdade social, o racismo e a corrupção; além de mostrar o povo negro pronto para se defender de tudo isso, muitas vezes até mesmo de forma armada. O trabalho de Douglas já apareceu aqui na makers gonna make, na edição 5: Design & Política, e também já foi o tema de diversas exposições ao redor do mundo. Seu trabalho é conhecido e reconhecido, embora não o suficiente; e por isso trouxe o texto mais biográfico: entender sua trajetória é essencial para apreciar sua obra.
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obrigada por chegar até aqui. nem sempre é fácil encontrar fontes de qualidade sobre os temas que eu escolho. dessa vez, me vi em uma situação que só reforça o ponto principal dessa edição: há poucos textos sobre sobre designers pretos e sobre racismo no design no Brasil. então acho que essa é a conclusão inevitável: precisamos falar mais sobre pessoas pretas no design, expandir o debate. se você escrever ou encontrar algo sobre o assunto, fique a vontade para responder esse e-mail. espero que esse possa sempre ser um espaço de troca. talvez role até uma parte 2 com mais recomendações :)
até a próxima terça!
- hele
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👩🏻💻 curadoria e textos por hele carmona, jornalista & estudante de design
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