especial: tour pela minha pasta de projetos
esse é o máximo de exposição que vocês vão arrancar de mim :P | tempo de leitura: 6 minutos
oie! seja bem-vinde a mais uma edição da makers, que não é só mais uma: é a centésima primeira edição :) eu sou hele carmona e há alguns anos produzo zines, cartazes e livros de forma independente, além de desenvolver projetos gráficos e editoriais no meu estúdio. perguntei o que os leitores gostariam de ver nessa edição ✨ especial✨ e a ideia de fazer uma tour pela minha pasta de projetos impressos surgiu, pra mostrar como cada ideia nasce e evolui na minha produção autoral. vamos?
por que eu tenho uma pasta de projetos impressos (e por que alguém se importa)?
Num mundo que vem sendo invadido por soluções prontas, sinto cada vez mais que criatividade é um processo, um período no tempo, e não a obra final resultante. Há alguns anos mantenho uma pasta onde guardo os vestígios físicos do meu processo criativo — as evidências de que tudo tem começo + meio, não apenas um fim. Todas as pessoas criativas têm um processo individual e suas criações têm diferentes rascunhos e versões intermediárias, mas nem todas as preservam e menos ainda as expõem. Essa edição é um convite pra que vocês conheçam um pouco do meu processo e, quem sabe, se sintam inspirados a começar a própria pasta de projetos.
começando do começo: os rascunhos
Nessa etapa, os meus objetivos principais são distribuir o conteúdo espacialmente no papel e explorar ideias de formato sem compromisso. Mesmo que eu use ferramentas digitais na criação de publicações, eu sempre começo no papel. Tenho dois motivos pra isso: o primeiro é a possibilidade de criar pensando no formato final, impresso, com suas dobras, sobreposições e narrativa sequencial (ou não); o segundo é que me sinto mais livre pra ter ideias e mais conectada com meu próprio trabalho ao fazer rascunhos à mão. Como diz David Meaney em A Lasting Impression: The Value of Connecting with Letterpress:
“Embora produzir o próprio trabalho manualmente possa ser mais demorado, permite ao designer criar uma conexão mais valiosa com o que está criando e desfrutar do processo. (...) Comparado ao ritmo acelerado do design digital, o trabalho de tipografia ‘lenta’ permite ao designer tomar decisões mais deliberadas.”
Nesse trecho, David fala especificamente de tipografia tradicional; mas seu raciocínio é válido pra qualquer tipo de produção artística ou criativa.
Além dos rascunhos físicos, nesse período costumo fazer pesquisas e estudar as possibilidades técnicas com base no orçamento do projeto: quantas páginas o projeto pode ter, que tipo de impressão vai ser utilizado e etc. É bom ter uma noção disso pra próxima etapa ser mais assertiva.
testes de layout e primeiros mockups
Eu costumo escolher a direção mais promissora entre os rascunhos pra passar pro computador; eu uso o Photoshop ou Figma Draw pra ilustrações e o Illustrator pra diagramar. Prefiro o Illustrator ao inDesign porque acho que é menos engessado e facilita trabalhar com tipografias expandidas/vetorizadas/personalizadas manualmente.
Essa é a etapa que mais varia em termos de duração, porque depende da extensão do projeto. Alguns projetos são compostos por uma única folha de papel (como essa zine-poster), enquanto outros têm centenas de páginas (a maioria dos livros). Depois de “traduzir” os rascunhos para um layout digital, faço o primeiro teste de impressão. É nessa parte que meus projetos costumam cair em um limbo, mas acho que faz parte.

Quando estou trabalhando em um projeto pessoal e não gosto dos primeiros testes, tenho alguma dificuldade em reelaborar a ideia na mesma hora. Então me dou um tempo. No caso da zine-poster “Abaixo o tipatriarcado”, esse tempo foi de uma semana... mas no projeto do livro “At the mountains of madness”, um ano inteirinho se passou até que eu olhasse outra vez os rascunhos e sentisse vontade de tentar algo novo. Pode parecer exagero ou procrastinação, mas não é como se eu não tivesse feito nada nesse meio tempo: eu me envolvi em outros projetos, estudei muito, e talvez o mais importante: não deixei de fazer quando me senti pronta só porque já tinha demorado tempo demais. Timing é uma ilusão.
testes de papel e impressão
Uma vez mentalmente aprovado o layout, eu testo alguns papéis na impressora de casa ou direto na gráfica, dependendo do tamanho do papel. Eu escolho papéis coloridos quando quero deixar as cores de tinta mais vibrantes ou quando quero um efeito de cor chapada sem exigir demais da impressão; outras escolhas são mais clássicas (papel pólen para miolo de livro, por exemplo) ou mais experimentais (uso do papel vegetal para essa zine). Sempre que posso, testo a impressão em casa, mesmo que seja em um tamanho reduzido — costuma economizar tempo e dinheiro.

Esses testes não são só estéticos, mas também técnicos. Na zine monstro, por exemplo, o primeiro papel amarelo que testei não segurava bem a tinta da minha impressora a laser e isso causava algumas manchas. Também é nessa etapa que eu testo métodos de encadernação e o formato final do impresso.
versão final
Por fim, sempre separo um exemplar do impresso pra guardar na pasta junto com os rascunhos. Isso me permite ter um panorama completo da evolução do projeto, desde a primeira ideia até o resultado. Além disso, ter essa mini biblioteca de projetos me ajuda muito quando converso com clientes ou parceiros em projetos: posso sugerir diferentes formatos, papéis e acabamentos e mostrar exemplos da minha própria produção.
extras
Tenho muito carinho pela minha pasta de projetos e considero ela como um diário. Por isso, em alguns projetos, guardo outros materiais relacionados. A zine monstro, por exemplo, surgiu de um ensaio escrito para uma disciplina da faculdade de Design e guardei junto com os protótipos a primeira versão do texto, corrigida com comentários de uma professora muito querida. Já para o livro “At the mountains of madness”, como era um projeto longo, eu fiz um planejamento mais elaborado e mais etapas de teste. Cada projeto tem sua especificidade e pode ter elementos diversos — tento preservar o que foi importante pra mim durante o processo criativo.
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obrigada por ler até aqui! como essa edição teve muitas imagens, acabei precisando ser mais sucinta no texto (e-mails tem limite de tamanho!!). espero que tenha sido rico mesmo assim :) como sempre, fique a vontade pra deixar um comentário ou responder esse e-mail pra trocar ideia. e se você conhece alguém que pode curtir esse texto, compartilhe :)












Que texto mais gostoso! Eu também sou designer e adorei entender como você trabalha, até me inspirou a fazer mais trabalhos manuais.
Sobre as pausas durante os testes, gostei de ouvir que você demorou 1 ano num projeto gráfico, realmente, acho que as vezes precisamos lembrar que alguns prazos são só imaginários (como projetos pessoais) e é isso.
Aii amo guardar os papéis do processo