#93 tetris, o jogo que hipnotizou o mundo
por que esse é o melhor jogo já feito? | tempo de leitura: 7 minutos
oie! seja bem-vinde a mais uma edição da makers :) eu sou hele carmona, jornalista, designer e artista multimídia. essa edição foi escrita há um tempo, e tudo começou quando assisti Tetris (2023) na AppleTV. o filme conta a história de dois homens com personalidades opostas, que se tornam grandes amigos e lutam contra a kgb pra presentear o mundo ocidental com o melhor jogo já criado (sim, é o Tetris). apesar de ser um filme mediano pra ruim, ele me inspirou a tentar entender: por que Tetris é um jogo tão popular até hoje?
🟪 O que é que o Tetris tem?
Como parte da pesquisa para essa edição, eu decidi baixar Tetris no meu telefone no domingo à noite. Grande erro: eu não conseguia parar de jogar. Fui dormir mais tarde que o normal, e no dia seguinte, que era segunda, joguei durante todo meu trajeto de ônibus até a faculdade e até durante a aula. Quando cheguei no nível 60, exclui o aplicativo do meu telefone. Duvido que essa edição chegaria na sua caixa de entrada na terça de manhã sem essa decisão mais drástica.
A experiência confirmou um saber empírico: Tetris é muito legal, quase viciante. O criador do jogo, Alexey Pajitnov, conta que antes de terminar o protótipo ele já sentia que “não conseguia parar de jogar”. Especialistas atribuem o sucesso amplamente ao design: pra começar, o jogo é muito simples. Consiste em empilhar tetraminós (peças formadas por quatro blocos - daí o nome, Tetris, tetra + tênis (o esporte)) que descem a tela de formando linhas horizontais; quando uma linha é completada, ela se desintegra e o jogador ganha pontos. O jogador perde quando a pilha de peças chega ao topo da tela.
“Se você observar o design do Tetris, tudo tem seu lugar; não há excessos e é reduzido até a sua forma mais pura. É um exemplo perfeito de [jogo] 'fácil de aprender, mas difícil de dominar'. No nível mais básico, há um prazer em arrumar os blocos. Cada vez que você joga, você fica melhor. Você pode entrar em um fluxo onde suas mãos e mente se tornam uma só.”
Niels Monshouwer, co-fundador da WeirdBeard Games
“Tetris não estava tentando recriar filmes de ficção científica ou filmes de ação com gráficos baratos; em vez disso, ele se apoiou nas limitações dos computadores da época. Também era abstrato o suficiente para que, se você não fosse um "gamer", ainda pudesse se convencer de que não era um videogame e sim apenas algum tipo de quebra-cabeça geométrico. Tetris era o jogo para pessoas que nunca seriam pegas jogando videogames."
Dan Ackerman, autor de The Tetris Effect: The Game that Hypnotised the World
De fato, conforme Dan menciona, as limitações tecnológicas que Alexey Pajitnov enfrentou ao criar o Tetris tiveram bastante influência em sua forma final. A primeira versão do jogo foi programada basicamente sem gráficos, apenas com sequências de caracteres como colchetes, pontos de exclamação e outros sinais de pontuação.
🟩 A origem do Tetris

Alexey Pajitnov criou o Tetris em momentos de tédio no trabalho, nos anos 1980. Ele usava um computador Electronika 60, que nem tinha interface gráfica, e por isso a primeira versão do jogo é composta por figuras criadas a partir da repetição de caracteres de pontuação. Isso limitou significativamente o que podia ser feito, e acabou contribuindo para a essência minimalista do jogo.
O filme da AppleTV que mencionei narra a jornada de Henk Rogers, um empresário americano, para licenciar a venda e distribuição do Tetris para o mercado internacional através da Nintendo. Alexey era soviético, e foi um pouco difícil conseguir a internacionalização, mas depois que Tetris foi lançado para o console Gameboy não tinha mais volta: a versão original sozinha vendeu 35 milhões de cópias no mundo todo. Tetris se tornaria o jogo mais portabilizado para diferentes consoles e mídias, vendendo no total 520 milhões de cópias físicas; e suas versões digitais (incluindo a de celular) somam mais de 615 milhões de downloads. Os dados são da página oficial do Tetris, By the Numbers.
É possível que essa adaptação pra diferentes consoles, e principalmente os portáteis, tenha contribuído pra que o jogo se tornasse “viciante”. Eu fiquei 5 horas jogando Tetris em dois dias porque o jogo estava no meu celular, e eu estou sempre com ele. O mesmo vale pra um videogame portátil como o Gameboy, mas não para jogos que só rodam em computadores ou em consoles daqueles de ligar na televisão, que te limitam a jogar em casa.
Podemos admitir, mesmo sem muito compromisso científico, que é um bom jogo: as regras são fáceis de aprender mesmo na primeira vez jogando; o jogo fica desafiador conforme você avança; os gráficos são simples, mas agradáveis, coloridinhos; e a trilha sonora acompanha o ritmo do jogo garantindo uma experiência sensorial e cognitiva completa pra você que pensou que ia jogar só um pouquinho e perdeu umas 5 horas da sua vida em dois dias. Espera, essa sou eu
Pausa para os comerciais :)
Está oficialmente aberto o hele studio, meu estúdio de design com foco em conteúdo e design de impressos. Já estou marcando projetos pra iniciar no mês que vem, em junho. Se você quer trabalhar comigo, o ideal é me chamar agora! No hele studio, eu trabalho com:
Identidade visual para marcas ou projetos, como newsletters, produtos ou campanhas;
Impressos em geral (minha especialidade, hehe): revistas, livros, embalagens, etc;
Consultoria para projetos editoriais: apoio estratégico pra pensar financiamento coletivo, divulgação e formatos pra livros, zines, newsletters e afins.
É só me escrever em contato@helecarmona.com com a sua ideia :)
🩺 Laudo médico: Tetris
Às vezes usamos a palavra “vício” pra falar de coisas um pouco banais. Eu não fiquei mesmo viciada em Tetris, mas algumas pessoas ficam. Em 1994, Jeffrey Goldsmith perguntou a Alexey Pajitnov do Tetris se ele não tinha criado um farmatrônico — uma droga eletrônica (Alexey riu e respondeu que não… mas estamos de olho). E o Efeito Tetris é real:
“O efeito Tetris (também chamado de síndrome do Tetris) acontece quando uma pessoa dedica tanto tempo e atenção a uma atividade que ela começa a alterar seus pensamentos, imagem mental e sonhos. Pessoas que jogarem Tetris por muito tempo poderão perceber que estão pensando em diferentes maneiras que certos objetos e formas se encaixam na vida real, como por exemplo caixas em supermercados ou edifícios na rua. Eles poderão também ver tetraminós caindo enquanto tentam dormir ou ver imagens de tetraminós quando fecham os olhos.”
👾 O que vem depois do Tetris?
São quase quarenta anos de Tetris no mundo, e lançar versões diferentes e adaptar o jogo pra outras mídias definitivamente o ajudou a se manter relevante em um mundo que foi completamente candy-crushed de uns anos pra cá. Esse vídeo mostra as melhores e as piores versões de Tetris depois do sucesso do original, e sério, você não vai se arrepender de dar play. Ou vai se arrepender muito, sei lá, alguns são muito ruins.
Além das infinitas versões do jogo, Tetris também acabou se tornando também uma espécie de referência da cultura pop. Dá pra achar luminária Tetris, brinco Tetris, estampa de Tetris, almofada Tetris, mesa Tetris, enfim — um monte de coisa. O visual ainda faz muito sucesso.
💌 Gosta da makers? Seja um apoiador :)
Desde 2022 eu escrevo e publico ensaios sobre design, criatividade, cultura e trabalho. Criei a makers porque ela é a newsletter que eu gostaria de ler: uma publicação que fala sobre design de forma descomplicada, mas não simplista. Prezo muito pela confiabilidade das informações que publico e sou eu quem pesquisa, escreve e edita cada texto. Já são mais de 80 edições gratuitas enviadas para +3 mil pessoas, além de zines e impressos autorais.
Com R$15/mês (ou R$12,50 no plano anual), você recebe um e-mail extra exclusivo por mês, 30% de desconto nos impressos da Hele Press e me ajuda a manter essa newsletter viva.
obrigada por ler até aqui! essa edição foi originalmente enviada para 900 pessoas em junho de 2023. como hoje os assinantes estão na casa dos 3.600, quatro vezes mais, achei que valia um reenvio. fique a vontade para responder esse e-mail se quiser conversar, compartilhar algo ou até mesmo criticar algum ponto da newsletter. espero que esse possa sempre ser um espaço de troca. até a próxima terça!
eu já quase entrei em um limbo pra apender a jogar e ver macetes de tetris
essa edição me fez baixar tetris no celular