#47 design muito muito pequeno
edição pocket pra falar de adesivos de fruta | tempo de leitura: 6 minutos
oie, seja bem vindo a mais uma edição da makers gonna make, uma newsletter sobre design, criatividade e sociedade. a edição de hoje é uma edição pocket, mais curtinha. acabei de entrar de férias da faculdade e preciso de um breve descanso mental. por sorte, minha amiga pessoal marina martins me sugeriu um tema perfeito: adesivos de fruta. sim, adesivos de fruta - eles são mais interessantes do que parecem, e estão envolvidos com fake news e até exposições de museu. vamos? mas antes, um aviso!
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🍋 don't eat it, it's art
Adesivos de frutas são incríveis - não só esteticamente, já que isso é meio pessoal, mas pelo desafio que eles representam em termos de comunicação visual. De frente pra uma prancheta entre 1 e 4 centímetros quadrados (eu chutei esses números), algum designer por aí está tentando criar uma peça gráfica que seja capaz de indicar a procedência (e com, sorte, algumas qualidades) de um alimento. Frutas normalmente não têm embalagem, então esse é o único jeito que os produtores encontram de identificar e diferenciar suas frutas das outras nas gôndolas de mercado por aí.
Alguns desses adesivos vêm com um número estampado, o PLU. E foi nesse ponto da minha pesquisa que essa edição passou de um texto sobre adesivos lindinhos pra uma batalha contra a desinformação (sim, o drama é intencional). É que eu queria confirmar algumas informações sobre os adesivos no Brasil: eles são feitos de papel e cola comestível? (Não, e mesmo se fossem, por que você faria isso? É arte.) Eles são obrigatórios? Quais materiais podem ser usados? Existe um padrão pra sua confecção gráfica? Eu acabei caindo num buraco negro inimaginável da internet: os posts de blog com fakenews sobre adesivos de fruta.
🤥 rotulagem e desinformação
Sério, a quem interessa esse tipo de desinformação? Eu não faço ideia, mas aqui vão algumas informações deliberadamente falsas ou pelo menos bastante imprecisas que encontrei nos primeiros resultados do Google:
“os adesivos são feitos de papel e cola comestível”: esse pode ser só uma tradução feita de um texto escrito em outro país e não uma mentira inventada propositalmente pra envenenar pessoas. Os adesivos não podem ser feitos com material tóxico e nem que altere a composição do alimento, mas muitos materiais plásticos podem ser utilizados, de acordo com a ANVISA. Por favor, não coma adesivos de polietileno.
“o código nos adesivos informa sobre a procedência do alimento, se ele é transgênico, orgânico ou convencional”: alimentos orgânicos e transgênicos tem símbolos de identificação própria, e o código PLU de quatro dígitos que aparece nos adesivos é completamente aleatório, de acordo com a IFPS, organização responsável por esse registro. Códigos com cinco dígitos com 9 na frente são sim para alimentos orgânicos; e com cinco dígitos iniciados em 8 seriam transgênicos, mas a IFPS não chegou a colocar essa sinalização em prática e precisou desmentir essa história publicamente. De qualquer forma, devem haver outras formas de verificar esse tipo de informação se é algo importante pra você: os adesivos não são suficientes, mesmo porque não são obrigatórios no Brasil.
Rotulagem de comida é um assunto muito complicado, porque passa por exigências de agências reguladoras, times de marketing de grandes empresas tentando burlar essas exigências e claro, muita desinformação e desconhecimento por parte dos consumidores. Essas matérias que encontrei acidentalmente (e por motivos óbvios não vou linkar) contribuem pra isso. E podem nem ter sido publicadas de má fé, mas qualquer tipo de desinformação me incomoda, por mais boba que pareça. Me lembrei de quando viralizaram vídeos de pessoas falando que os testes de cor impressos em embalagens de leite eram indicadores de que o leite havia sido reprocessado (é mentira também).
No fim, adesivos de fruta são exatamente o que parecem a primeira vista: peças gráficas fofinhas que identificam o produtor daquele alimento, e, às vezes, a variadade da fruta (manga Tommy ou Palmer, por exemplo) e seu código PLU, que foi criado pra ajudar estabelecimentos comerciais a acessar informações sobre o produto (e não os consumidores).
🍊 design digno de um museu
A diversidade e criatividade gráfica presente nesse gênero tão pequenininho inspirou a criação da conta no instagram Fruit Stickers, com curadoria da designer Kelly Angood, uma colecionadora de adesivos de fruta de longa data. Mas não só isso – na Espanha vários adesivos foram parar em uma exposição de design, com modelos que vão da década de 1950 aos dias atuais.
Os designs também inspiram muitas releituras: adesivos decorativos que não chegam a estampar frutas, mas que tem o mesmo tamanho, formato e vibe dos adesivos reais.
O apelo estético é real: no tiktok, você pode encontrar várias pessoas compartilhando suas coleções pessoais (é só presquisar fruit sticker collection), além de ideias de customização como capas de celular com adesivos de fruta colados e até essa pessoa que cobriu um violão inteiro com eles. E você, já parou pra prestar atenção no design desses selos? Se sim, deixa um comentário me contando :)
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ei, obrigada por ler até aqui! agora eu usei minhas habilidades de escrita pra passar toda essa informação com pouca utilidade prática pra dentro da sua cabeça. fique a vontade para responder esse e-mail - espero que esse possa sempre ser um espaço de troca. e se você gostou da edição, compartilhe com alguém!
Eu amo adesivos de frutas. Fiz uma edição da minha newsletter sobre eles no ano passado, mas com uma abordagem um porco diferente: https://open.substack.com/pub/andreameconta/p/agro-branding
Gostaria de acrescentar a importância desses adesivos de fruta pra colar na testa e fingir q é uma manga (só crianças fazem isso), aliás essa news foi incrível, é muito interessante como coisas tão pequenas podem causar distorções tão grandes kkkk eu já caí em várias fakes dessas