#42 tetris, o jogo que hipnotizou o mundo
por que esse é o melhor jogo já feito? | tempo de leitura: 7 minutos
no início desse ano eu gastei meus 3 meses grátis de AppleTV e acabei assistindo um dos lançamentos do streaming: Tetris (2023). o filme conta a história de dois homens com personalidades e aspirações opostas que se tornam grandes amigos e lutam contra a kgb pra presentear o mundo ocidental com o melhor jogo já criado (sim, é o tetris). o filme não chega a ser bom, mas desde que assisti, deixei anotada uma ideia de edição: tentar entender porque tetris é tão popular. vamos?
🟪 O que é que o Tetris tem?
Como parte da pesquisa para essa edição, eu decidi baixar Tetris no meu telefone no domingo à noite. Grande erro: eu não conseguia parar de jogar. Fui dormir mais tarde que o normal, e no dia seguinte, que era segunda, joguei durante todo meu trajeto de ônibus até a faculdade e até durante a aula. Quando cheguei no nível 60, exclui o aplicativo do meu telefone. Duvido que essa edição chegaria na sua caixa de entrada na terça de manhã sem essa decisão mais drástica.
A experiência confirmou um saber empírico: Tetris é muito legal. É quase viciante. O próprio criador do jogo, Alexey Pajitnov, conta que antes mesmo de terminar o protótipo ele já sentia que “não conseguia parar de jogar”. Mas por que? Alguns especialistas tentam responder essa pergunta em uma matéria da BBC, e eles atribuem o sucesso amplamente ao design do jogo. Pra começar, o jogo é muito simples: consiste em empilhar tetraminós (peças formadas por quatro blocos - daí o nome, Tetris, tetra + tênis (o esporte)) que descem a tela de formando linhas horizontais; quando uma linha é completada, ela se desintegra e o jogador ganha pontos. O jogador perde quando a pilha de peças chega ao topo da tela.
“Se você observar o design do Tetris, tudo tem seu lugar; não há excessos e é reduzido até a sua forma mais pura. É um exemplo perfeito de [jogo] 'fácil de aprender, mas difícil de dominar'. No nível mais básico, há um prazer em arrumar os blocos. Cada vez que você joga, você fica melhor. Você pode entrar em um fluxo onde suas mãos e mente se tornam uma só.”
Niels Monshouwer, co-fundador da WeirdBeard Games
“Tetris não estava tentando recriar filmes de ficção científica ou filmes de ação com gráficos baratos; em vez disso, ele se apoiou nas limitações dos computadores da época. Também era abstrato o suficiente para que, se você não fosse um "gamer", ainda pudesse se convencer de que não era um videogame e sim apenas algum tipo de quebra-cabeça geométrico. Tetris era o jogo para pessoas que nunca seriam pegas jogando videogames."
Dan Ackerman, autor de The Tetris Effect: The Game that Hypnotised the World
De fato, conforme Dan Ackerman menciona, as limitações tecnológicas que Alexey Pajitnov enfrentou ao criar o Tetris tiveram bastante influência em sua forma final. A primeira versão do jogo foi programada basicamente sem gráficos, apenas com sequências de caracteres como colchetes, pontos de exclamação e outros sinais de pontuação.
🟩 A origem do Tetris
Alexey Pajitnov criou o Tetris em momentos de tédio no trabalho, nos anos 1980. Ele usava um computador Electronika 60, que nem tinha interface gráfica, e por isso a primeira versão do jogo é composta por figuras criadas a partir da repetição de caracteres de pontuação. É claro que isso limitou significativamente o que podia ser feito, e pode ter contribuído para a essência tão minimalista do jogo.
O filme lançado pela AppleTV não conta exatamente a história do jogo, mas sim a jornada de Henk Rogers, um empresário americano, para licenciar sua venda e distribuição para o mercado internacional através da Nintendo. Alexey era soviético, e foi um pouco difícil conseguir isso, mas depois que Tetris foi lançado para o console Gameboy, não tinha mais volta: a versão original sozinha vendeu 35 milhões de cópias no mundo todo. Tetris se tornaria o jogo mais portabilizado para diferentes consoles e mídias, vendendo no total 520 milhões de cópias físicas; e suas versões digitais (incluindo a de celular) somam mais de 615 milhões de downloads. Os dados são da página oficial do Tetris, By the Numbers.
É possível que essa fácil adaptação pra diferentes consoles, e principalmente os portáteis, tenha a ver com sua característica “viciante”. Eu só fiquei 5 horas jogando Tetris em dois dias porque o jogo estava no meu celular, e eu estou sempre com ele. O mesmo vale pra um videogame portátil como o Gameboy, mas não para jogos que só rodam em computadores ou em videogames daqueles de ligar na televisão, que te limitam a jogar em casa.
Já dá pra admitir, mesmo sem muito compromisso científico, que simplesmente é um bom jogo: as regras são fáceis de aprender mesmo na primeira vez jogando, ele é ao mesmo tempo fácil e desafiador conforme você avança, os gráficos são simples mas normalmente bem agradáveis e a trilha sonora acompanha o ritmo do jogo garantindo uma experiência sensorial e cognitiva completa pra você que pensou que ia jogar só um pouquinho e perdeu umas 5 horas da sua vida em dois dias. Espera, essa sou eu
🩺 Laudo médico: Tetris
Às vezes usamos a palavra “vício” pra falar de coisas um pouco banais. Eu não fiquei mesmo viciada em Tetris, eu só joguei por algumas horas. Mas algumas pessoas ficam viciadas mesmo. Em 1994, Jeffrey Goldsmith perguntou a Alexey Pajitnov do Tetris se ele não tinha criado um farmatrônico - uma droga eletrônica (Alexey riu e respondeu que não… mas estamos de olho). E o Efeito Tetris é real:
“O efeito Tetris (também chamado de síndrome do Tetris) acontece quando uma pessoa dedica tanto tempo e atenção a uma atividade que ela começa a alterar seus pensamentos, imagem mental e sonhos. Pessoas que jogarem Tetris por muito tempo poderão perceber que estão pensando em diferentes maneiras que certos objetos e formas se encaixam na vida real, como por exemplo caixas em supermercados ou edifícios na rua. Eles poderão também ver tetraminós caindo enquanto tentam dormir ou ver imagens de tetraminós quando fecham os olhos.”
👾 O que vem depois do Tetris?
São quase quarenta anos de Tetris no mundo, e lançar versões diferentes e adaptar o jogo pra outras mídias definitivamente o ajudou a se manter relevante em um mundo que foi completamente candy-crushed de uns anos pra cá. Esse vídeo mostra as melhores e as piores versões de Tetris depois do sucesso do original, e sério, você não vai se arrepender de dar play. Ou vai se arrepender muito, sei lá, alguns são muito ruins.
Além das infinitas versões do jogo, Tetris também acabou se tornando também uma espécie de referência da cultura pop. Dá pra achar luminária Tetris, brinco Tetris, estampa de Tetris, almofada Tetris, mesa Tetris, enfim - um monte de coisa. O visual ainda faz muito sucesso.
💌 apoie a makers gonna make
Eu escrevo a makers por amor, é verdade. Mas para manter a produção de textos semanal e explorar novos formatos, como materiais impressos e entrevistas com outros designers, seu apoio pode ser essencial :)
Contribua através do apoia.se e receba de presente as duas zines da makers gonna make; elas já estão acabando! Além disso, apoiadores recebem um e-mail extra mensal com todas as referências incríveis que ficaram de fora das edições regulares. Tá tudo bem explicadinho por lá. E se você estiver se sentindo especialmente generoso, me dê um livro de presente :)
ufa, obrigada por ler até aqui! eu até tinha outro tema planejado pra hoje, mas depois de perder horas de sono jogando tetris, quis começar a escrever logo. fique a vontade para responder esse e-mail se quiser conversar, compartilhar algo ou até mesmo criticar algum ponto da newsletter. espero que esse possa sempre ser um espaço de troca. até a próxima terça!
Não assisti o vídeo ainda, mas se não citarem o Tetris 99 como uma das melhores versões vou de base. Está versão reune uma das melhores mecânicas em jogo, na minha opinião, que é eliminar outros jogadores num ranking
Conheci sua newsletter recentemente e tenho amado tanto! Parabéns, Hele!