#23 projetando para você (daqui a algumas décadas)
ou: por que fazemos design como se fôssemos todos morrer aos 50? | tempo de leitura: 5 minutos
recentemente li uma matéria na fast company que dizia que designers precisam projetar para seus pais, e não para seus colegas, no sentido de que o design constantemente ignora populações mais velhas. eu concordo, mas não consegui deixar de pensar: meus pais são mais velhos que eu, sim, mas um dia eu também vou ser. e você também. e por que não estamos fazendo nada sobre isso?
❤️ para se inspirar
New Old: uma exposição para reimaginar o design para pessoas mais velhas
Embora a New Old não tenha chegado no Brasil e nem esteja mais em exibição no Design Museum, eu encontrei um link na Dezeen que comenta os seis projetos que a compõem, e traduzi no medium da makers: “Exposição New Old apresenta seis projetos que visam melhorar a vida dos idosos”. A mostra não foca apenas no público maduro, mas principalmente na inovação: como reimaginar soluções que já existem, como as scooters e os andadores, mas que deixam a desejar?
Uma das grandes questões sobre o design para pessoas 60+ é o estigma que diversos artefatos carregam. Usar um andador, uma bengala ou outro tipo de apoio para se deslocar é automaticamente interpretado como algo ruim, um sinal de fragilidade, lentidão, limitação. Os projetos apresentados na New Old trazem uma visão mais inclusiva, com projetos que visam reinserir pessoas mais maduras na sociedade de forma criativa e inovadora.
🔮 falando em futuro…
Você já conferiu o relatório de tendências da makers gonna make? São 28 páginas de muito conteúdo, e eu contei um pouco sobre o processo na edição #22 :)
O download é gratuito, basta preencher um pequeno formulário.
💭 para refletir
Por que abandonamos o bom design quando é para 'idosos'?
“Por que as expectativas [para artefatos para pessoas maduras] são tão baixas, tão beges, tão sem graça?”
Jeremy Myerson é o curador da New Old; ele tem 67 anos e recentemente lançou o livro Designing a World for Everyone: 30 Years of Inclusive Design (Projetando um Mundo para Todos: 30 Anos de Design Inclusivo, sem tradução por enquanto).
Apesar de ser designer, professor, pesquisador e um ativista pelo design inclusivo há muitas décadas, sua palestra TEDx nasce de um medo pessoal: o de envelhecer e ser abandonado pelo design. Isso porque segundo ele - e provavelmente qualquer pessoa mais velha pode confirmar - o design trata a velhice como uma questão médica, quase uma doença. E assim a maioria do que é projetado tem uma aura hospitalar, e não social ou cultural.
Apesar da palestra ser em inglês, é possível ativar legendas automáticas em português. Myerson ressalta que não faz sentido ignorar uma parcela tão grande da população, que gera demanda de mercado: até 2030, a previsão é de que 1,4 bilhão de pessoas no mundo tenha mais de 60 anos. A chamada economia prateada, ou economia da longevidade, só tende a crescer.
“Nós queremos uma vida cheia de anos ou anos cheios de vida? Se pudermos repensar nosso lugar no mundo conforme envelhecemos; se pudermos usar a tecnologia de uma forma mais humana e equilibrada; e se pudermos substituir o modelo médico de envelhecimento por modelos sociais e culturais mais úteis para designers, então eu acredito que meus maiores medos sobre a longevidade não vão se concretizar.”
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depois de duas semanas de férias e duas edições especiais (a de retrospectiva e a de tendências) eu estava morrendo de saudades de escrever a makers no seu formato original: com inspiração e reflexão sobre um tema. e você, o que está achando do formato? fique a vontade para responder esse e-mail se quiser conversar, compartilhar algo ou até mesmo criticar algum ponto da newsletter. espero que esse possa sempre ser um espaço de troca.
até a próxima terça!
- hele
Muito bom Hele! Pensando nos nossos pais e na população em geral, muita gente ignora o tema da longevidade, mas colocando como parte da nossa vida, talvez assim comece a rolar uma ação de pensar em "anos cheios de vida" e que não ignorem as pessoas só porque envelheceram. Urgente tirar a "aura hospitalar" da terceira idade!