#1 acessibilidade no design
quem está fazendo design acessível para pessoas com deficiência? será que estamos fazendo as perguntas certas para as pessoas certas?
Tempo de leitura: 4 minutos
desde o primeiro período da minha graduação na esdi eu escuto falar sobre acessibilidade no design. sobre como projetar para pessoas com deficiência é importante e pode beneficiar toda a sociedade. diante disso, colegas de curso - frequentemente, pessoas sem deficiência - decidem priorizar esse recorte em seus projetos.
e é claro que isso é uma coisa boa! eu entendo e admiro de onde vem a vontade de realizar esses projetos. mas não consigo deixar de me perguntar: quem vai estar envolvido nesses processos de criação?
❤️ para se inspirar
Abraçadeiras, madeira compensada e tubos de PVC: como pessoas com deficiência e cuidadores estão hackeando suas casas
A professora de sociologia Laura Mauldin descobriu como pessoas com deficiência inventam e modificam móveis e outros objetos em suas casas para facilitar o dia a dia. Pessoas sem formação ou experiência no campo do design, mas que criaram soluções do tipo ‘faça você mesmo’, documentados no site Disability at Home. Em uma entrevista para a revista Fast Company, que eu traduzi aqui, a pesquisadora comenta:
“Quando as casas não são projetadas de maneira acessível, ou quando os objetos não são projetados de maneira acessível, isso cria alguns problemas e as pessoas precisam ser criativas.”
Há uma forte possibilidade de que existam mais pessoas com deficiência que não são designers inventando e projetando para suas necessidades do que designers fazendo isso na indústria. A Fast Company também conversou com Liz Jackson, conhecida por cunhar o termo “disability dongle”, que se refere aos produtos e designs criados para ajudar pessoas com deficiência sem entender o que essas pessoas realmente querem ou precisam.
“Então você acessa o Twitter e o que você encontra nos comentários são pessoas com deficiência dizendo que não queremos isso. Não queremos inovação. Queremos infraestrutura”, diz Jackson.
Projetos como o Disability at Home tiram o foco da criação de designers “com D maiúsculo”, que estão em busca de uma nova grande invenção, e devolvem o protagonismo às pessoas realmente impactadas pela falta de acessibilidade nos objetos e espaços cotidianos. Além de claro, ser um banco de inspirações para designers de produto e de interiores.
Se você prefere ler a matéria original em inglês ao invés da tradução, o link está aqui.
💭 para refletir
O que podemos aprender com o Relatório Mundial sobre a Deficiência, da OMS
Quis trazer também uma fonte confiável de pesquisa para designers que desejam projetar com acessibilidade em foco. Em 2011 a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou o Relatório Mundial sobre a Deficiência, que foi traduzido para português e publicado pelo Governo do Estado de São Paulo.
Esse é o primeiro documento a fornecer um quadro global sobre as pessoas com deficiência, suas necessidades e os problemas que enfrentam. O relatório reúne informações com relevância para as áreas de saúde pública, direitos humanos e é claro, para o design.
Mais de um bilhão de pessoas tem algum tipo de deficiência, e a tendência é que esse número aumente devido ao envelhecimento da população e o aumento de doenças crônicas. Esse número representa cerca de 15% da população mundial - uma quantidade chocante quando consideramos o quão negligenciada essa parcela da sociedade pode ser.
Essas e outras informações úteis constam no relatório, um documento extenso (são 360 páginas) que não vai ser lido de uma vez, como um livro - mas que serve como uma valiosa fonte de referência para designers com interesse no assunto. Recomendo especialmente o capítulo 6 do relatório, sobre ambientes facilitadores, que aborda o Desenho universal.
Desenho universal – um processo que aumenta a segurança, funcionalidade, saúde e participação social, através do design e a operação de ambientes, produtos e sistemas em resposta à diversidade de pessoas e habilidades. A funcionalidade, porém, não é o único objetivo do desenho universal, e “adaptação e design especializado” são uma parte do fornecimento personalizado e escolha, que pode ser essencial para lidar com a diversidade. Outros termos coincidentes para o mesmo conceito geral são “design para todos” e “design inclusivo”.
Acesse o relatório aqui.
chegamos ao fim da primeira edição, ufa! quis abordar o tema da acessibilidade de uma forma um pouco diferente da que estou acostumada a ver por aí. como uma pessoa sem deficiência e que se preocupa com o problema de falta de acessibilidade que enfrentamos hoje, quis usar esse espaço para encorajar que mais estudantes e designers busquem projetar com pessoas com deficiência, mais do que para elas. o que você acha sobre isso? fique a vontade para responder esse e-mail se quiser conversar, compartilhar algo ou até mesmo criticar algum ponto da newsletter. espero que esse possa sempre ser um espaço de troca.
até a próxima terça!
- hele
👩🏻💻 curadoria e textos por hele carmona, jornalista & estudante de design
💡 tem algo incrível que você gostaria de compartilhar comigo e com mais leitores da makers gonna make? pode me mandar por aqui!
Muito bom!!!